
De acordo com o criador e editor
Samicler Gonçalves “(...)
para marcar o início de forma significativa a numeração teria de ser especial, um numero que representasse o apoio do nosso país à distribuição, o espaço que temos no mercado de quadrinhos, a nota que damos aos nossos políticos, e toda a sua falta de bom senso”: zero. É isso que o editor quer dizer. Que temos zero apoio em tudo o que ele questionou. E infelizmente isso é verdade. Esse é o mercado em que o autor independente de quadrinhos vive. Sem apoio nenhum de qualquer órgão que seja, quer venha do governo ou de instituições privadas. Eu recebi semana passada algumas edições de
Grandes Encontros #0, editado e criado pelo artista Samicler Gonçalves, criador do personagem Cometa, e devo dizer que não deixa a dever em nada qualquer revista de quadrinhos estrangeira. A qualidade gráfica, a editoração, artes, roteiros, chamadas e criadores de primeira linha. Não tô falando isso porque fui um dos roteiristas de uma das HQs contidas na revista, mas porque é verdade. E fico orgulhoso de ter participado dessa primeira edição de marco zero.

A revista tem o mesmo “sabor” de qualquer quadrinho de fora e na verdade, com tanta merda que andam fazendo, sinceramente Grandes Encontros é um alento contra a surra mental contra o material importado e reeditados pelas pseudo-editoras brasileiras. Ainda tem gente que consome X-Men! Provavelmente a pior coisa que tem no mercado hoje em dia é isso. É inelegível de tão confuso. Eu defendo que deve haver espaço para qualquer obra intelectual de qualquer lugar do mundo. Quadrinho é quadrinho. Quando alguém o faz, ele não faz pensando em que país mora, mas pensa em contar uma boa história e isso é saudável. O problema do Brasil é que nós (sem generalizar) somos uma cultura ignorante. Não falo de nossas raízes, que são riquíssimas. Temos um teor intelectual cultural muito recheado, mas digo a abrir a mente a novas mídias, ou aceitar as existentes, que é o caso do quadrinho nacional. Isso existe há tanto tempo, mas simplesmente é ignorado sumariamente. Apenas HQs de humor ainda fazem algum “sucesso” e temos aí ainda o
Maurício de Souza e sua Mônica, que é verdadeiramente a única certeza de sucesso nesse ramo. Mas vivemos apenas disso? Só sabemos contar isso? Não! Sabemos fazer mais que isso. É só dar uma busca na internet pra ver o quanto de material interessante está sendo ou já foi produzido. Não só de humor e sexo (que também tem uma veia forte aqui), mas de super-heróis, intimistas, aventuras, terror, mangás e de tudo um pouco.

Alguns desses materiais são questionáveis. Verdade que tem muita coisa ruim no meio independente, mais por falta de experiência, já que não temos mercado, do que qualquer outra coisa. Mas tem muita coisa boa sim. Material bem criado e editado, como é caso de Grandes Encontros #0 que reuniu os criadores
Cortizo Júnior (numa HQ da Tribo),
Leonardo Santana,
Wendell Cavalcante,
Carlos Alberto e
Lula Borges (numa HQ da Cabala) e
Samicler Gonçalves,
Lorde Lobo,
Rogério Puhl e eu, com colaboração de
Daniel Antonelli (num encontro entre o Penitente e o Caveira), e a revista é fantástica. Em todos os aspectos. Quer dizer, temos material. Temos as armas, mas não temos quem nos apóie. Qual a solução para o criador independente? Fazer isso mesmo que rotulei: ser independente. Bancar sozinho seu projeto, quer ser seja como fanzine impresso (Xerox), revista mais bem cuidada (gráfica) ou tentar a
internet, com HQs online, o que tem sido bem comum hoje em dia, pois é mais barato e há mais recursos. Não encontramos espaços nas “grandes”, pois elas preferem pegar o mastigado que vem de fora a tentar consolidar um mercado aqui dentro. Aqui o dinheiro vai falar mais alto. Quem pode cupá-los? O “problema” é que o autor nacional não tem como mostrar o seu potencial. Se não tem apoio, como vai mostrar algo? Algumas até já tentaram no passado, mas esbarram na escolha errada de material. Já vi muita “revista de quadrinhos bonita nacional” encalhar nas bancas por falta de boas histórias. É mais um lance de seleção mesmo e não escolher qualquer coisa. É um tiro no pé. Faltam bons editores com visão.

Mas enquanto houver pessoas como o Samicler Gonçalves que edita suas revistas sozinho, como o Cometa, numa qualidade ótima, assim como o meu chapa Lorde Lobo, que vem editando sozinho o Penitente de maneira brilhante, acredito que nosso mercado tem sim chance. Todo nosso mercado vem de produção independente e muito disso tem uma qualidade fantástica. Minha resenha sobre Grandes Encontros #0? Não nada de negativo. É 100% na qualidade final. É algo que se deve ter em casa. Todos os envolvidos estão de parabéns pelo excelente material.
Nota: 9,0
Serviço:
Grandes Encontros #0
Ano: 2009
Capa: Colorida
Selo: SG Visual
Editor: Samicler Gonçalves
Gráfica- Miolo colorido (acho)
Páginas: 32
Capa: Samicler Gonçalves e Rogério Puhl
Contato:
http://sgartevisual.blogspot.com/
http://samiclercometa.blogspot.com/
Comentários