Liga da Justiça- Corte do Diretor (Zack Snyder's Justice League, EUA, 2021) ★★★(★)
Polemica segue Zack Snyder de perto desde o filme Homem de Aço (2013). Sua abordagem mais fria e de tons acinzentados dividiu os fãs. O "Superman da depressão" como muitos apelidaram, ainda rende bastante critica ao diretor. Em seguida veio o mais polêmico ainda, Batman vs Superman (2016) onde os fãs quebraram o pau entre defender e criticar. Com um tom burocrático, Snyder se apega ao belo trabalho de contextualização visual que ele sabe fazer muito bem- mesmo com todos os filtros escuros. Aqui Snyder começava a montar sua Liga da Justiça com as aparições da Mulher-Maravilha (Gal Godot) e rápidas passagens do Aquaman (Jason Mamoa), Flash (Ezra Miller) e Cyborg (Ray Fisher). Um filme longo preocupado em encaixar as deixas para o ato principal e deixar as pontas para o futuro filme dos heróis reunidos. Ao fechar com a Morte do Superman, o diretor traçava seu retorno e as consequências com foco Darkseid. Mas houve muitos problemas na confecção de seu plano entre estúdios e pessoais.

Warner- Lembro de que quando vi o primeiro trailer da Liga da Justiça eu fiquei desapontado. Não sei exatamente o que esperava, mas eram só cenas de ação em tons de vídeo clipe. Aquilo verdadeiramente não me empolgou. Aconteceu também a mesma coisa com Batman vs Superman. Apenas o último trailer me deu uma ponta de esperança naquele filme. Em Liga da Justiça nenhum dos trailers me empolgaram. Houve muitos boatos de que a Warner não estava muito satisfeita com o trabalho de Snyder junto à Liga. Com o sucesso que a Disney vinha alcançando na Marvel Studios e seus filmes coloridos e heroicos, o estúdio parecia insatisfeito com o trabalho do Snyder que não foram fracassos exatamente, mas ficaram abaixo da expectativa do estúdio. Então ele saiu do projeto já perto de finalizar e fora substituído por Joss Whedon. Os boatos ganharam força de que o estúdio estava insatisfeito, mas a verdade foi que a filha de Snyder havia se suicidado e o diretor não conseguiu terminar seu ambicioso projeto- que teria na verdade uma sequencia. O resultado da mudança foi logo sentido no primeiro trailer sob a batuta de Whedon em tons mais claros e mais humor. Sinal de que o estúdio de fato não queria mais aquele tom sombrio.

Troca de diretor- Joss Whedon fez seu nome crescer na Marvel por comandar o grande sucesso Vingadores e sua mediana sequencia. Lembro que durante sua passagem e refilmagens, os atores elogiavam o cara- coisa que mudou drasticamente mais tarde quando Ray Fischer começou a relatar supostos abusos do diretor durante sua turbulenta estadia ali. Gal Gadot também relatou algumas ações fora do comum com o novo comando. O filme que foi ao cinema ganhou um tom mais leve, com cores mais vibrantes e um final redondo. Na época que saí da sala de cinema, eu disse pra mim mesmo que tava "massa". Mas no fundo, sabia que não. Que o filme épico que eu esperei tanto, fora reduzido a duas horas de uma Sessão da Tarde anabolizada. A Warner sentiu o baque de toda essa bagunça nos bastidores e seus filmes futuros como Shazam!, Aquaman e Mulher-Maravilha 1984 vieram em tons mais redondos e visual mais claro. Até mesmo o filme da Arlequina é pega nessa cruzada.

Campanha e Corte do Diretor- Começou uma campanha árdua dos fãs atrás da versão do diretor. A versão "real" que iria para os cinemas. De um lado os fãs pressionando, do outro a Warner se fazendo de cega e no meio Snyder deixando imagens de bastidores, fotos e pequenas passagens de coisas que não foram para o cinema. Isso atiçou ainda mais os fãs e deixou o estúdio na parede. Se a Warner quisesse de fato, não teria feito e pronto. Mas a pressão moral em cima do estúdio foi tão forte que ela acabou cedendo e por fim a versão do diretor foi dado sinal verde. Agora era com Snyder, verbas e refilmagens com o elenco pra encaixar melhor a trama. Muito se falou, muito se cogitou desse corte. O que Snyder fez foi tentar colocar o máximo que ele podia de sua ideia original. Acredito que algumas coisas ali iriam apenas para a Parte 2, mas como essa seria provavelmente sua última passagem naquele universo, ele se esforçou para concluir o máximo que pode, fazendo as pontas soltas se amarrarem, mas ainda assim deixou aquela ponta marota para o que seria a invasão de Apokolips à Terra- o que causou uma euforia enorme nos fãs para que a Warner reviva esse universo, agora chamado de Snyderverse.

Filme- Basicamente, é o mesmo filme de 2017. No entanto, o tom é outro, e as cenas extras contam a mesma coisa de forma quase diferente. Muito do que foi visto na versão de Whedon está aqui, mas com as novas cenas, a forma de contar mudou bastante. A trama mostra uma corrida de Apokolips na vinda de Lobo da Estepe em busca de três Caixas Maternas- objetos de imenso poder que juntas podem destruir o planeta e deixar livre para que Darkseid encontre a Equação Anti-Vida, algo que pode dar ao seu detentor um poder imensurável com o dom da vida e da morte universal, e que fora escondida na Terra. Batman (Ben Affleck) tenta desesperado encontrar pessoas poderosas pra agir ao seu lado. A Mulher-Maravilha já está com ele, falta convencer Aquaman, Cyborg e o Flash. A corrida é afobada, pois o Lobo da Estepe com seu imenso poder e seus Parademônios, consegue aos poucos e em cenas impressionantes de luta, duas Caixas- Maternas. Em dado momento, ficamos sabendo que a tal Caixa é muito mais que um mero instrumento de destruição, e ele pode até... reviver uma pessoa, dada as circunstâncias certas. Então, que tal o Superman (Henry Cavill), pensou o Batman. Tá... a trama fica um pouco forçada aqui, mas algumas explicações breves depois, nosso Homem de Aço retorna, confuso, verdade. A partir desse momento, a coisa corre rápido. Lobo da Estepe consegue a última Caixa, pois a Liga usa para reviver o Superman e isso atraí o vilão. As apostas agora ficaram altas e o grupo vai no encalço do Lobo ou o mundo poderá ser destruído. Chegamos ao propósito principal da fita: deter o Lobo da Estepe e salvar o mundo, criando assim uma Liga da Justiça.

Conclusões- Snyder lutou por esse filme. Os fãs queriam esse filme. O Superman finalmente usa seu uniforme preto, os fãs queriam muito isso. No frigir dos ovos, a versão do diretor é muito superior a versão de cinema. Visualmente melhor, sem enxertos bisonhos (alguém falou Superman Boca de Sacola?), a trilha sonora mais evidenciada e uma ação mais violenta. O Cyborg ganha um tempo de tela importante pra trama- coisa que foi quase limada da outra versão. Mas o Flash, infelizmente, não melhora. Continua um bobão que mais lembra o Wally West da época da Liga da Justiça humorística. Aliás, as cenas dele correndo são bisonhas; no entanto, protagoniza a única cena que verdadeiramente arrepiou os pelos do meu braço lá perto do final. Já o Superman tem pouco tempo de tela. Uma pena! Henry Cavill não teve a oportunidade em nenhum dos filmes de Snyder em mostrar um Homem de Aço mais seguro e altivo. Sempre com uma cara de choro e poucas falas, seu Superman é quase um boneco que voa, grunhi e senta a porrada. Gal Galdot continua ótima na personagem e Ray Fisher faz um Cyborg com cara de líder. Já Mamoa faz aquele Aquaman que mais parece o Conan. Não mudou muita coisa. A cena do pesadelo é mais um Elseworlds aqui e o Caçador de Marte "apenas" um fanservice. Snyder teria mais coisas pra contar e encaixar- algumas até bizarras como um "affair" entre Lois e Bruce e até a morte do Batman. Ainda bem que isso não rolou.

Volta, Snyderverso!- Os fãs começaram campanhas para que o universo criado por Snyder retorne aos cinemas- ou até Streaming. Nesse caso, acho que a Warner não vai ceder. Uma coisa é investir em um filme que já tava praticamente todo filmado. Outra coisa é investir milhões em algo que o estúdio já estava querendo se afastar. A linha futura da DC nos cinemas será individual, mas compartilhado a distancia. Flash, Shazam! 2 e Aquaman 2 vão trilhas por linhas mais aventurescas e individuais. Esquadrão Suicida também, mas num tom mais adulto e violento. Outros filmes como Adão Negro também deve seguir esse ritmo- assim como outros prováveis filmes como Zatanna, Os Novos Deuses e até um reboot do Superman. Snyderverso é algo que a Warner não quer nem pensar no momento. Mas isso não quer dizer que Snyder não volte a um filme DC. Boatos (boatos, hein?) dizem que Snyder pode filmar Mulher-Maravilha 3. Ainda assim, nesse momento em que os cinemas estão em Xeque por causa da pandemia, o estúdio vai investir em algo mais seguro e redondo.

Liga da Justiça- Corte do Diretor (Zack Snyder's Justice League, EUA, 2021)Direção: Zack SnyderRoteiro: Chris TerrioElenco: Ben Affleck, Henry Cavill, Amy Adams, Gal Gadot, Ray Fisher, Jason Momoa, Ezra Miller, Jesse Eisenberg, Jeremy Irons, Diane Lane, entre outrosEstúdio: Warner Bros.Duração: 242 min
TRAILER.
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