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CINEMA- Besouro Azul (2023) .


Besouro Azul (Blue Beetle, EUA, 2023) ★★

O momento atual dos filmes baseados em quadrinhos de super-heróis não é dos mais simpáticos. Depois de uma "era de euforia" pelos filmes da Marvel Studios, o rescaldo é amargo. Quando Vingadores Ultimato (2019) subiu o letreiro no final da sua projeção encerrou-se ali o amor do público com as adaptações vinda da Nona Arte- só que ninguém sabia, ainda. O que veio depois foi uma sucessão de fracassos ou decepções amargas. A Marvel Studios foi duramente por sua "fórmula mágica" que estava engasgando no próprio cuspe e a DC/Warner estava tão perdida quanto, sem conseguir emplacar nada e sendo ainda mais alvo de críticas cítricas. No caso da DC, foi ainda mais preocupante, já que seu universo compartilhado estava em frangalhos e foi concebido de forma apressada, tentando alcançar os bilhões da Marvel Studios. O resultado são filmes sem sal, com pouca simpatia- salvo ou outro sucesso sofrido. Então onde se encontra Besouro Azul? Essa é uma pergunta interessante. A fita estava pronta para ser ou arquivada ou ir direto para o streaming, mas sua premissa era mesmo cinema. Com tantos desencontros e mudanças de chefia, Besouro Azul acabou no cronograma cinzento da DC/Warner e se manteve sua estreia nas telonas mesmo. Mesma sorte não teve o filme da Batgirl que iria pro HBO Max. Esse foi engavetado de vez. 

Ainda assim o Besouro Azul foi bem questionado! Qual o sentido de lançar um filme de um personagem que ninguém conhece? A sorte bateria nessa porta como aconteceu com os Guardiões da Galáxia? A Warner resolveu arriscar mesmo assim. E a aposta foi boa, mas não sei se foi certeira. O filme conta a estória de Jaime Reyes (Xolo Maridueña da série Karate Kid), o terceiro Besouro Azul dos quadrinhos depois do assassinato de Ted Kord durante o evento Crise Infinita em 2005. De origem latina, o herói dispõe de armamentos simbióticos alienígenas, coisa que nenhum dos outros dois Besouros tiveram. O que o torna um personagem bem poderoso. E é nessa linha que o filme segue, com uma origem bem catedrática. Uma espécie de "fórmula do Homem-Aranha", não tem como descrever melhor. A dúvida principal era exatamente onde o filme iria se encaixar na nova cronologia da DC nas telonas. A esta altura o filme que estava em outra gestão engravatada, adentrou no turbilhão que foi o anuncio de James Gunn como o cabeça dos projetos DC daqui pra frente e sendo assim, Besouro Azul ficou preso num limbo de dúvidas. Mas pra sorte do diretor Ángel Manuel Soto, como filme o longa não tem nenhum vínculo com as produções ligadas ao famigerado "Snyderverso" e sai pelo menos limpo desse ar poluído que o "visionário" deixou.

Em uma sinopse breve, o filme mostra o jovem Jaime Reyes voltando para casa depois de se forma na faculdade e dar de cara com uma realidade que ele estava sendo "poupado" para se concentrar nos estudos: a família estava quebrada e prestes e perder a casa. É uma sucessão de eventos rápidos, Jaime acaba conhecendo Jenny Kord (Bruna Marquezine) que depois de uma confusão familiar o entrega o Escaravelho que detém um poder cobiçado por sua tia Victoria (uma caricata Susan Sarandon, que desperdício do talento dessa atriz). A partir desse momento o filme foca ainda mais no clichê da origem- todo o manual desde se surpreender, aceitar, aprender e conquistar os novos dons, sem claro, esquecer os sacrifícios. Mas mesmo com essa maré de repeteco, o filme tem simpatia, principalmente vinda da família Reyes, que foi a grande surpresa da projeção. Ao contrário, por exemplo, da forçadíssima família de Billy Batson em Shazam! Fúrias dos Deuses (2023), a galera do Jaime é muito mais unida, mais natural. A pegada de "novela mexicana" empregada nas muitas passagens deles funciona muito bem. Tem que ter o coração de pedra não ser ganho por essa família- apesar de alguns exageros no humor, ainda mais partindo do tio. 

Mas apesar de esforçado, não escapa de vacilos de roteiro e são tão bestas que poderia ter feito do filme um sucesso inesperado e genuíno. A vilão vivida por Susan Sarandon é pra lá de ruim. Praticamente um estereótipo de vilão qualquer pra motivar o herói ser herói. Uma atriz desse porte poderia ter rendido muito mais, assim como foi Jack Nicholson em Batman, o Filme de 1989. Uma pena. O "capanga" OMAC (vivido por Raoul Max Trujillo) tinha grande potencial de destaque também, mas ficou preso aos grunhidos e ataques. Aliás, bem corajoso usar o OMAC, personagem criado pela lenda Jack Kirby. Abre um parênteses para que a DC explore mais isso. O humor tem ótimos momentos, mas também consegue ser tão brega que chega a ser vergonhoso. Parece estar preso a uma fórmula vencida e só traz mesmo é uma leve vergonha alheia. Já Bruna Marquezine começa meio robótica, mas logo se solta e pra mim foi um destaque muito positivo. Alás, ela não é apenas o "interesse romântico" do herói. Ela funciona no filme todo e é uma peça importante pra trama desenrolar. Bola dentro! Mas o filme tenta criar ligações com a Cultura Pop que ora funciona, ora fica gratuita demais e são essas gangorras que fazem com a produção perca pontos valiosos. Ponto positivo para a boa trilha sonora e efeitos especais competentes.

Agora assim, pra um filme "perdido" entre mudanças de comando, se saiu melhor que seus antecessores que ainda tinham algum fiapo de ligação entre eles. Acho que por justamente estar livre dessas amarras, Besouro Azul respira melhor de um roteiro com defeitos próprios, mas nada grave... do que atrelado a um universo confuso, sombrio e sem carisma. O futuro de Besouro Azul ainda é incerto. James Gunn está criando uma nova cronologia para os filmes da DC e tudo que foi feito até aqui supostamente será ignorado. O filme do Besouro está no meio do muro, basta saber se Gunn vai puxar para o lado dele ou deixar ele cair pro outro lado e esquecendo todo o resto. 

Besouro Azul (Blue Beetle, EUA, 2023)

Direção: Ángel Manuel Soto
Roteiro: Gareth Dunnet-Alcocer
Elenco: Xolo Maridueña, Bruna Marquezine, Susan Sarandon, George Lopez, Adriana Barraza, Elpidia Carrillo, Raoul Max Trujillo, Damián Alcázar, Belissa Escobedo, outros
Estúdio: Warner Bros.
Duração: 127 min


TRAILER.

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