
- Olha, amiga... eu não sei se é uma boa. Vocês meio que, bem... não tiveram um final... feliz?
- Como isso foi acontecer? Aqui? Justo hoje? Depois de... sei lá... dois anos? Isso é um pesadelo.
- O que está acontecendo?- indaga Fabiano por não saber dos fatos.
- Resumo rápido? Aquele rapaz de blusa branca, jeans surrado e sapatos sem graxa foi namorado da Carol. Eles eram muito felizes, e tal até que um dia foram contar suas proezas com outros namorados- coisa que todo sabe que não se deve fazer- e aí... bum! Não lhe darei detalhes porque é muito pessoal.
- Ele ainda não me viu. Posso ir embora.
- Quer uma opinião?
- Não.
- Darei assim mesmo. Encare. Veja isso de frente. Adianta mesmo prolongar isso, amiga? Não... eu acho que não. Resolva de uma vez, certo?
- Da última vez não foi muito bom e dois anos se passou.
- E agora você está achando que não há mais o que resolver...
- Estou achando que meu pulso está acelerado.
- Oh.
- Eu... ah, droga. Seja o que for, eu vou lá falar com ele. Somos... adultos. Agora. Acho...
Sem mais delongas a jovem moça caminha a passos não muito firmes, mas cientes de onde os estão levando. O barulho do mar, música ambiente e pessoa a sua volta parece mais são filtradas por algodões em seus ouvidos. Ela tenta chegar o mais sorrateiramente que pode, mas Daniel vira o rosto em sua direção. Ela trava. Ele respira. Aspira. Olha para o mar. Dá umas piscadelas. Se volta para Carol novamente.
- Hã... oi. Eu...
- Ah, é... hã... então. Eu meio que te vi aqui e, bem... porque não, né? Eu vim com a Anelise- lembra dela?- e o namorado... da Ane, Fabiano. E... te vi...aqui.
- Claro, claro...
- Você voltou... ou...?
- Eu, eu... eu voltei. Estava morando em Alagoas com uma tia. E voltei ontem pra casa do meu pai.
- Ah. Legal. Seja bem-vindo ao lar. Nada melhor que o lar. Porque o lar... eu não sei mais do que estou falando.
- O que exatamente está havendo? A gente...?
- Oh. Eu... não. Quer dizer. Eu não sei. Eu só...- Carolina rir nervosamente e em seguida morde o lábio inferior. Mexe no cabelo, se volta para Anelise curiosa e depois retorna sua atenção para Daniel.
- Olha... eu só estou surpresa. Esse não é o local para...
- Falarmos de nós e tudo que aconteceu. Não, não é mesmo. E nem sei se quero falar. Não estou dizendo que estou fugindo dessa conversa e de nós. Se bem que não existe mais nós, mas... bem... eu acho que não deveríamos tocar no assunto. Na verdade, nem nos falar.
- Foi o que eu pensei... também.- diz Carolina meio sem jeito mas continua- Só que... nós nunca colocamos os pratos sujos pra lavar. Soubemos sujar, mas não os lavamos, preferimos apontar quem sujou o quê.
Daniel respira fundo.
- Olha, acho que o que teve de ser, foi. Acredito que tenhamos superado isso. Mas deveríamos mesmo deixar quieto. Eu voltei, vou retomar minha faculdade e quero estudar. Apenas isso. Nada mais que isso. Ficar em paz, sabe?
- Ah, claro. Entendo. Geografia? UECE? Uau. Hã... boa sorte então.
- Valeu. Você está bem... digo... bem.
- Sim. Eu estou bem. Não, na verdade não. Eu... olha, foi um erro. Vou dizer tchauzinho e nunca mais vamos nos ver, certo?
Daniel não responde e prefere caminhar para outra direção como que indo embora. Passa por Anelise e diz um “oi” educado sacudindo a cabeça positivamente. Mais atrás Carolina encurta os lábios e seus olhos parecem marejados. Ela respira e sua mente vaga pelo nada. Anelise coloca a mão em seu ombro e sabe que não precisa dizer mais nada. Abraça a amiga com força e Carolina fita o pôr-do-sol com uma visão turva.
***
Comentários