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Manifesto Roteiro

Uma coisa que vem me chamando a atenção há um tempo. Muita gente chega pra mim e diz: “Cara... tu é um grande roteirista”. O mais engraçado, é que é sem embasamento. Porque a maioria diz que sou um “grande roteirista” sem nunca ter lido nada meu. Eu agradeço mesmo os elogios, mas é estranho para mim, ser chamado de tal coisa se a pessoa nunca leu nada meu. Muitas vezes se baseiam em relatos de terceiros. Mas cada caso é um caso. O que pode ser legal pra um pode não ser pro outro. Exemplo: muita gente gostou de Ladras no zine que produzo com amigos (o Arena #01), mas uma pessoa achou decepcionante. Quer dizer, questão de perspectiva e tato literário. Você não pode empurrar Clarice Lispector para um leitor que começou sua leitura (e viciada) em Harry Potter e esperar o mesmo impacto. Isso é só uma analogia. Não estou me comparando a Lispetor ou chamando o leitor de burro. Mas eu sofro bastante com meus roteiros por vários motivos.

Primeiro; tudo que você ler por aí, que tiver meu nome e for um personagem de outra pessoa, geralmente não vai estar meu roteiro em 100%. O criador deve ter alterado alguma coisa e pode apostar que essa coisa faz com o texto perca um pouco do que eu gostaria de passar. Segundo; muitas vezes os desenhistas a quem entrego roteiro das duas uma: ou modificam a diagramação do meu texto ocasionando uma “limação” de algo, ou querem até mudar o texto porque acham que “assim fica melhor”. Aí já viu! Mas claro que já peguei artistas que seguiram o roteiro de boas. Terceiro; mesmo quando eu mesmo desenho meus textos, eu me lasco. Não sou desenhista e perco muito do sentido quando acabo me vendo diante de algo que não sei desenhar. Meus textos acabam ficando no meio do caminho.

Mas vale algumas ressalvas nesse chorôrô todo. Geralmente quando escrevo para alguém a pedido, eu, obviamente, digo ao criador que pode mexer como quiser. O personagem é dele. E ninguém conhecer mais ele (o personagem) do que ele mesmo, o criador. Mas eu tive um caso curioso acerca disso. Um amigo me pediu pra escrever um roteiro sobre seu personagem sombrio, solitário e trancadão. Eu escrevi o roteiro de acordo com essa personalidade. Eu gostei muito, mas claro, dei a liberdade do criador para alterar o que quisesse. O cara me coloca um texto tipo assim: “ ... (num sei o quê lá) e quero encontrar novos amigos”. Eu pensei: cara... eu nunca escreveria isso num personagem desses. Mas é do cara, certo? Fazer o quê? Mas meu nome continuou no crédito como sendo eu o autor. Pra mim foi meio que uma queimação. Mas eu nunca quero cabeça com isso. Eu dou mesmo essa "liberdade". E adoro quando me convidam. Faço com muito gosto e prazer. E espero continuar fazendo. Mas sabe quando que vou ver um roteiro meu em sua totalidade e como é pra ser? Quando eu pagar um desenhista pra fazer. Porque assim o cara vai ter que fazer como eu disser. Até lá, as coisas ficam como estão. Não é um desabafo e nem uma crítica (muito menos uma explicação pra caso alguém leia algo meu por aí e diga depois “É só isso”?), mas uma forma de mostrar que é questão de perspectiva. Nem vou falar dos nem-sei-quantos-roteiros-meus-por-aí que provavelmente nunca verão a luz do dia. Seria outra história longa...

Comentários

Anônimo disse…
É isso aí, Ed, meu velho!! Eu falo que você é um grande em talento em uma série de coisas, porque isso você sempre me provou!! Já vi idéias suas mirabolantes que me empolgaram imensamente em ver isso ganhando vida nas páginas de uma HQ!! Realmente admiro muito as suas fanartes e já lhe falei que lamento não conferir o mesmo zelo na hora de fazer suas páginas!! Resumindo, sua arte me empolga, isso pra mim é motivo para achar bom, querer ver mais e elogiar!! Infelizmente você é talentoso demais pra ser um só cara, e isso penaliza um pouco todos aqueles que são teus fãs, pois de fato muita coisa fica esqucida e não é executada!! Agora me permita ser chato, na condição de seu amigo é claro, essa aí de seus roteiros, nas circunstâncias apontadas por você no texto, não serem 100% como escreveu na hora de executados, é algo que todos nós estamos sujeitos!! Não é um desprivilégio só seu!! O que cabe a um bom roterista é conferir idéias boas, sólidas e se possíveis um tanto originais, para suplantar esse fator inevitável!! E particularmente já acho que faz isso muito bem!! Por isso deixe de chorar feito moça, pois é fera meu amigo, hahahaha!! Um abraço!!