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O Estigma do Quadrinho Nacional


Foi-se o tempo que quadrinho nacional era chamado de "chupeta de gringo". Talvez há uma década e meia atrás, eu ate concordasse dado o número de genéricos que havia por aí e que fizeram as tentativas de gerar algum peso em bancas afundarem (acreditem, eu vi isso e tinha muita coisa ruim). Hoje, no entanto, eu vejo um outro formato para o quadrinho brasileiro, que está aos poucos tomando um rumo que já havia pensado que daria certo por aqui: o de álbuns, mais ou menos como é feito pela Europa. Cada cultura tem sua forma de fomentar seus quadrinhos. O mais difundido por anos foi o "Americano", onde seus super-heróis estavam mensalmente em lojas especializadas- como é feito nos Estados Unidos- em arcos infinitos e reciclagens periódicas. Mas vale lembrar que existem outros formatos como o do japonês, que criam personagens que um dia acabam e os italianos que criam quadrinhos como se fossem filmes em sequencia- ou uma novela que se renova (mas não se reinventa como o quadrinho americano). O brasileiro há algum tempo vem mostrando seus trabalhos saindo sombra do óbvio, criando HQs mais autorais e com temas diversos como ficção, terror, drama e humor nonsense. O Brasil produziu grandes HQs de terror nas décadas de 1970 principalmente e tem resgatado um pouco disso, mas vem diversificando seu material. 

Hoje fico feliz em vez, por exemplo, as Graphic MSP com autores que saíram em sua grande maioria do mercado independente, de HQs online e até de fanzines. Mas não para por aí... vejo outros materiais sendo divulgados o tempo todo, vejo principalmente a diversidade! Tem para todos os gostos. A única coisa que ainda pesa na fomentação desse mercado é o valor final do trabalho, que em geral fica bem salgado. Infelizmente não é culpa dos autores, e sim dos altos custos de edição no Brasil- o que acaba sendo um detrator feroz para o criador brasileiro. Existem muitas barreiras para que o quadrinho nacional emplaque de vez, e a falta de incetivo, por exemplo, pelo governo (com subsídios que poderiam ajudar a difundir o quadrinho nacional) é um deles. O autor fica refém da geografia do Brasil, isto é, fica aí muitas vezes preso a logística de venda, que acaba ocorrendo pela internet e apesar da grande rede ser vasta, ainda limita o acesso- muita gente prefere ir nas bancas a ter que bancar um frete que às vezes chega a custar mais que o valor do produto. 

Mas o mais importante pra mim, na verdade, é que o brasileiro tá criando novos universos, saindo da sombra de um mercado que vinha marchando com uma muleta buscando caminhos já trilhados. Duvida? Busque quadrinho nacional lá por volta de 1996 até 2005 e você verá do que falo. Busque quadrinhos nacionais agora e veja a diferença de qualidade de ideia e contextual. Ainda falta bastante para que o quadrinho nacional seja reconhecido por aqui e tenha mais credibilidade e facilidades, mas estamos no caminho certo, numa trilha feita por novos nomes, por novos criadores que querem principalmente criar seus universos, e não apenas copiar o que vem de fora. É um ótimo momento para os quadrinhos dos brasileiros. 

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