Aos domingos o SBT exibia Smallville e era o que eu queria assistir na época. Lá em 2004, a emissora passou a apresentar antes do seriado sobre a juventude do Superman, o "drama adolescente" O.C.- Um Estranho Paraíso. E pra mim grata surpresa, foi um seriado que acabou virando xodó naquele ano. E marcou um momento especial pra mim (que não vem a caso). O.C. era mais que um programa sobre adolescentes e casos amorosos ou o clichê do gênero. Bebia dessa fonte sim, mas ia além. O plot: o jovem Ryan Atwood (Benjamin McKenzie) foi preso junto ao irmão que roubou um carro e acabou sendo preso. Sandy Cohen (Peter Gallagher), advogado idealista, pega o caso do garoto e descobre que seu pai o abandonou e sua mãe vivia bêbada com um padrasto violento. Saldo disso, Sandy acaba levando o adolescente brigão pra sua mansão em Newport, em Orange Country (daí o "O.C." do seriado), lugar de milionários. No entanto, Kirsten (Kelly Rowan) não gosta nada da ideia de ter um "marginal" em sua casa e que pudesse influenciar seu filho nerd Seth (Adam Brody). Entre trancos e barrancos Ryan acaba ficando, criando um vínculo muito forte de amizade com Seth- que nunca teve amigos e sofria bullying- e no meio de tudo surge Marissa Cooper (Mischa Barton), a vizinha gata e que encanta Ryan. Mas a garota namora Luke Ward (Chris Carmack), jogador de Pólo Aquático e isso gera vários conflitos durante toda a primeira temporada. Seth tenta uma aproximação com a fútil Summer Roberts (Rachel Bilson), o que gera momentos divertidos. Parece uma daquelas novelas mexicanas, mas o seriado não se prende a uma fórmula tão simplória.
Entre os dramas adolescentes, existe traições, tramas paralelas com o núcleo adulto de diversas naturezas- de traições, crises no casamento, crimes do colarinho branco entre outras coisas. Mas o seriado vai além, quando outros personagens do passado de Ryan vêm à tona, e outras revelações que vão se aprofundando com o tempo, como drogas e alcoolismo. Mas o que mais impressiona é que o ritmo do programa não cai. As tramas pulam de uma situações para outras de forma natural, mas ao mesmo tempo, fortes. Ryan é um personagem que evolui muito, e sai do mero brigão para um cara inteligente que tem muito a oferecer, mas que ainda guarda aquela fúria de um garoto que cresceu num lar barra pesada com uma vizinhança marginal. Outro personagem que cresce muito é Summer, que sai da fútil dondoca de escola para uma garoto preocupada em manter os amigos bem e mais frente, ingressar em uma faculdade de renome e fazer trabalhos ambientalistas. O que me impressiona em O.C. é que nada parece ser aleatório e tudo é muito bem dosado. Entre o humor e o drama, entre temas pesados como aborto e sexualidade. Ah, mas você acha que viu isso em Malhação, talvez. Acredite, não viu como em O.C. Não é um drama pra ser forçado, e sim uma consequência de atos.
O programa teve quatro temporadas sendo que as três primeiras foram um sucesso de crítica e audiência, mas ao matar um personagem importante, a quarta temporada até começa bem, mas logo fica muito abaixo da média e com isso, a audiência vai para o limbo e com apenas 16 episódios é cancelada. O final até que foi digno, mas poderia ter ido além. O criador Josh Schwartz vendeu um programa para adolescentes, mas sem ser piegas ou galhofa. Um nerd assumido, era fácil ver quadrinhos na tela, inclusive tem a participação de George Lucas, visita a Wildstorm de Jim Lee na época e até uma convenção de quadrinhos. Esses dias (até a presente data dessa postagem) fiz uma maratona O.C. por nostalgia e me vi novamente envolvido pelos personagens, tramas, pela bela trilha sonora toda vindo de bandas alternativas e suas evoluções. Belo seriado, pena que não soube ir mais adiante. Foram 97 episódios, quatro temporadas e os dos primeiros foram dirigidos por Doug Liman de Identidade Bourne.
Comentários