Quando a primeira Graphic MSP surgiu nas bancas, lá em 2012 com Astronauta- Magnetar (de Danilo Beyruth e Cris Peter), eu pensei: "Cara, que ideia espetacular". E o que vinha pela frente com grandes nomes do quadrinho nacional, parecia promissor aos meus olhos. Isso vai funcionar, eu dizia pra mim mesmo. De lá pra cá muitos personagens da minha infância ganharam releituras diferentes por nomes diversos como Shiko, os irmãos Caffagi, Bianca Pinheiro, Paulo Crumbim com Cristina Eiko, e tantos outros artistas espetaculares. Uma empreitada como essa poderia com o tempo perder o fôlego, ou de repente não encontrar nomes fortes para dar continuidade aos sucessos em sequencia que o selo Graphic MSP vinha conquistando, mas não foi o que aconteceu. Cada novo lançamento constrói um pilar de qualidade na bem-sucedida empreitada que foi esse selo e isso só mostra o quanto nós temos de talentos em terra, de quantos roteiristas, desenhistas, arte-finalistas, coloristas nós temos de talento bem aqui, bem pertinho da gente. E isso converge exatamente nessa nova publicação, em Capitão Feio- Identidade de Magno e Marcelo Costa, dois profissionais que fizeram da oportunidade de se trabalhar com um personagem do Mauricio de Sousa, mais uma grande álbum dessa crescente família de sucessos editado por Sidney Gusman, o cara por trás de toda essa empreitada que vem dando muito certo e gerando frutos deliciosos.
De cara você consegue ver as referências dos dois artistas ao apresentar na sexta página, que antecede ao inicio da HQ, uma arte com "gibis velhos rasgados" onde podemos identificar Akira, Watchmen, Maus, Homem-Aranha (mas que também tem ligação com a origem do personagem)... e você vê mesmo um pouco disso aqui, no entanto, não espere que essa fonte seja um retalho para Capitão Feio- Identidade. A criação dos gêmeos Marcelo e Magno, vai além disso, criando uma HQ realmente com identidade própria, fazendo de suas inspirações, algo novo e atraente. A trama mostra o Capitão Feio já com poderes que ele aparentemente não lembra como conseguiu e vivendo nos esgotos. O isolado homem prefere evitar as pessoas e passa uma parte do seu tempo no lixão. Mas nem tudo continua assim quando ele acaba se expondo num incidente meio desastrado. Nos dias de hoje, nada passa batido e um cara que voa com super-poderes não passaria mesmo. O mais interessante é como o roteiro consegue evocar com mistério o passado e a origem do personagem, mas sem entregar muito, pois fica bem claro que as deixas já são para um próximo álbum. A construção da trama é muito natural, as tomadas e cenas de ação cinematográficas. Gostei bastante da forma como tudo foi montado, principalmente o impacto que uma pessoa assim causaria no mundo real. O medo, a forma como as pessoas o veem...
Vale muito também buscar alguns easter eggs soltos pelas páginas, que vão de referências diversas aos quadrinhos até coisas mais profundas sobre a própria criação do personagem. O formato de texto é muito rico e bastante atrativo, deixa as portas abertas para uma próxima aventura e com enormes possibilidades, inclusive de um "crossover" dentro do universo Graphic MSP (de repente, uma ideia ali plantada). Fiquei bem empolgado! Gostei de todos os álbuns lançados até aqui e sempre espero com felicidade pelo próximo, pois sei que vem coisa boa aí, mas Capitão Feio acabou se tornando aquele preferido junto a Astronauta. Arte e cores espetaculares, assim como um roteiro bem conduzido e de conteúdo. Capitão Feio é um vilão, e usar ele dessa forma tão bem construída mostra o quanto- e eu não tinha dúvidas disso- as possibilidades para esse selo são bem aproveitadas. Edição caprichada, com extras e making off, texto inicial do Maurício, fala um pouco dos autores e na quarta capa um texto de Ian SBF, diretor e roteirista do Portas do Fundos. Recomendadíssimo!
NOTA: 10,0
Capitão Feio- Identidade (2017)
Roteiro e arte: Magno Costa e Marcelo Costa
Páginas: 100 páginas
Editora: Panini Comics
Estúdio: Mauricio de Sousa
Estúdio: Mauricio de Sousa
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