
Já que falei um pouco de como não sou desenhista, acho que posso falar um pouco de como é ser “escritor”. Na verdade, eu não sei se sou escritor de verdade, ou coisa assim. O que sei é que gosto de escrever. De criar. Gosto de enveredar pelos caminhos da imaginação. Mas eu comecei esse meu “amor” pela escrita, já velho. Eu devia ter uns 20 anos. Eu sempre escrevia minhas histórias em quadrinhos. Desde 1990. Ou um pouco antes. Mas o gosto por escrever mesmo só veio bem depois. Uns oito anos depois. Sabe, de sentar e começar a criar. Quando eu fazia os meus gibis, eu ia desenhando e em seguida escrevendo os textos ainda nas páginas. Só um bom tempo depois, em 1994, no inicio do inverno, foi que peguei o gosto por colecionar gibis, coisa que eu fazia esporadicamente antes. Comecei a prestar mais atenção nas histórias e perceber quem as escrevia para que assim, eu pudesse identificar os trabalhos do cara e assim correr atrás do material desse cidadão. Foi assim que conheci as fases de Chris Claremont à frente dos X-Men, Frank Miller em Demolidor, Jerry Ordway em Superman. E por aí vai. Era muito excitante poder acompanhar os escritores. Saber como eles iam desenrolando as tramas. Dando vida aos personagens. Eu queria fazer igual. E minha sede por saber só aumentava. Comecei a ler HQs antigas, dadas como um divisor de águas em seu tempo, como Cavaleiro das Trevas (1986), de Frank Miller, com um Batman já velho e mais maluco que nunca. Ou o Watchmen, o gibi de super-heróis que revolucionou o mercado em 1984, onde os super- heróis são tratados com uma realidade espantosa. Hoje existem vários super grupos assim. Se tornou comum, mas Watchmen foi um marco e seu texto, escrito pelo britânico Alan Moore ainda é o melhor de todos. Catei cada obra antiga e fui colecionando as coisas que iam saindo no momento também.
Então comecei a escrever HQs para mim. Riscava tudo em cadernos ou folhas de oficio, dividindo as páginas e quadros, assim como diálogos e recordatórios. A verdade é que eu não tinha muita noção de como se diagramava aquilo, mas pra minha surpresa, quando a fazer um curso sobre como produzir HQs, a minha diagramação tava certinha. Isso foi em 1999. A partir desse momento decidi que queria mesmo ser escritor. Eu já havia escrito, no ano anterior, alguns “livros”. Isto é, mais ou menos. Eu pegava cadernos de 200 folhas e escrevia histórias neles como se fossem livros. E usava amigos como se fosse atores para viver os papeis dos meus personagens. Escrevi temas policiais, aventuras juvenis, terror e um drama também. Foi bem legal. Eu não tenho mais esses cadernos, que ficavam cheios de letras horríveis. As minhas, claro! Eles estão com outras pessoas. Um dia eu pegos todos e os passo pro PC. Mas foi com gibis que eu mais me identifiquei. Sempre era elogiado pelos amigos que também lhe davam com quadrinhos. Diziam que eu era maluco por criar coisas doidas e colocar meus personagens em situações fodásticas. Criações minhas como O Mundo Escroto, da onde surgiu o meu personagem mais famoso, o Coelho Puto, era (e ainda é) muito pedido entre os amigos do meio. Outras boas criações foi Caçadores de Aventuras (sobre arqueologia), o drama Minha @#$% de Vida (muito comentado entre amigos, claro) e produções amalucadas como Dois Canos Quentes, sobre o submundo do crime em Fortaleza.
Com o advento da internet, comecei a ficar um pouco mais “conhecido” e comecei a escrever roteiro pro país todo. O que me deixava muito feliz, principalmente o reconhecimento dos companheiros. Não sou excepcional, mas gosto de escrever. Então passei para outra etapa. Comecei a escrever roteiros de cinema. Escrevi um longa metragem e três curtas. É complicado escrever cinema, porque é tudo muito visual e a diagramação é toda espaçada. Mas eu gostei muito e pretendo escrever mais. Claro que nenhum desses roteiros foi filmado, mas quem sabe um dia eu mesmo não os filmo? Tenho muita vontade de dirigir também.
Mas meu gosto pela escrita ainda não estava completa. Comecei a escrever livros. Eu nunca tinha lido um livro pra valer, a não ser paradidático, que eu achava particularmente chato. Como eu disse no começo, todos esses meus gostos já começaram comigo um pouco acima da média de idade para essas coisas. Não que haja uma idade certa, mas geralmente isso vem ainda de criança. E comigo só veio depois da adolescência. E foi um gosto de cada vez. Então comecei a ler com... Harry Potter. Isso mesmo. O livro do bruxinho lá. E eu mergulhei nisso. Pra mim aquilo era algo novo. Li em três dias tamanha a empolgação, como uma criança que ganha aquele presente sem nem esperar. Tudo bem que o texto de Harry Potter num é lá essas coisas, mais foi meu primeiro tato pra valer. É até um pouco embaraçoso falar assim, porque eu não tinha gana por ler livros. Agora tenho muitos, mas num li nem a metade. Só agora li o Hobbit e ainda falta toda a Trilogia do Anel. E muitos outros livros também. Agora escrevo roteiros de cinema, quadrinhos, livros e até me arrisco em letras de música às vezes poemas. Mas é raro.
Escrever pra mim é criar toda uma gama de situações. É de certa forma, “brincar de Deus”, afinal, metaforicamente falando, eu estou dando vida a pessoas. Estou criando e guiando passos. Posso fazer chover ou nevar. Posso destruir um planeta todo ou fazer um parto. Escrever é ter liberdade num mundo fictício onde você faz o que quiser e como quiser. Você está criando vidas e dando a elas propósitos. Dando a elas tridimensionalidade. Gosto de sentar e criar. Gosto de colocar no papel tudo aquilo que me vem à cabeça. Mas o mais importante: gosto de fazer meus personagens terem reações reais dentro de suas realidades. Muita gente diz que escrever é uma profissão solitária. Afinal, você fica só na frente de um PC criando mundos. De certa forma, é verdade. Mas de certa forma também, você tem uma gama de pessoas na ponta dos dedos. E é nesses dedos que elas ganham vida. Escrever pra mim é como uma terapia. Aliás, criar pra mim é como uma terapia. Jogando situações e criando coisas para se desenrolar. Dar sentimentos e fazer a vida correr entre letras. Eu amo isso. Não quero ser um Sidney Sheldon, Tolkien, Alan Moore, Machado de Assis ou Stephen King. Só quero escrever um pouco. E isso me basta.
Comentários
Cara, escrever é muito legal, porque você entra num mundo sem limites, e essa liberdade é coisa que não existe no mundo real. Acho que quando você começa a ler um livro, uma HQ ou assiste a um filme, é isso que você espera. Que te surpreenda e te leve para um mundo diferente e livre dos parâmetros do nosso.
Curto muito O Stanley Kubrick, porque ele criou filmes livre dos maneirismos de Hollywood, e não se preocupava em fazer aquilo que achava interessante. O cara era fotógrafo, escritor, produtor e diretor. Sua arte era impactante. Como uma história pra adulto deve ser.
Mas há vários estilos de escrita como o infantil e adolescente. E acho que os quadrinhos antigos da Turma da Mônica, por exemplo eram muito mais criativos do que os de hoje. Não sei porquê!
Acho muito bacana seus textos. E estou aguardando pra ver sua contribuição para o Penitente do Lorde Lobo!
Um abraço!