
Enquanto todo mundo vai previsivelmente assistir o Dia em que a Terra Parou com o sempre inexpressivo Keanu Reaves ou as caretas de Jim Carey em Sim, Senhor (mas Carey sempre é duca), eu preferi dar uma de “chato” e correr contra a maré da mesmice. Optei pelo novo filme de Sam Mendes e digo uma coisa: foi a melhor opção. O diretor é o mesmo de filmes como o ótimo Beleza Americana, o Estrada para Perdição (baseado em quadrinhos) e um que gosto muito, Soldado Anônimo. Recentemente está quase dado como diretor de Preacher, baseado numa HQ adulta. É um diretor de visão, sem dúvidas. E isso é visto aqui, em Foi Apenas um Sonho que reuni o casal do sucesso do povo, Titanic, Leonardo DiCaprio e Kate Winslet. Claro que muitas piadinhas foram ouvidas do tipo “Jack não morreu.” Ou “Rose virou uma dona de casa frustrada.” e blá-blá-blá. Como um bom chato, preferi não dar ouvidos e fazer minhas piadinhas de merda depois.
Primeiro um aviso aqueles que pretendem de repente ir ao cinema assistir esse filme. Não é porque tem o casal de Titanic que o filme é o mesmo açúcar. Esse é um filme de drama na raiz da palavra. Não espere aquele romance pastelão. É duro. Quase cruel. O filme conta a história de um jovem casal desde o seu primeiro contato, mas não se prende nos trejeitos de ficar apenas nisso. Ele salta rapidamente para o “depois”. E mostra o quanto a vida pode dá uma guinada. DiCaprio vive o típico homem americano na década de 50 com um emprego, esposa e filhos. Winslet vive a mulher que respira para os filhos, casa e marido e tenta ser atriz. Os vizinhos os olham com inveja, no trabalho o marido tem um caso extraconjugal e por fora as pessoas os veem como um “casal jovem perfeito”. E é aí que o filme te pega pelos colhões. É um filme sobre infelicidade. Sobre aparências e sobre verdades. A crise parte dessa premissa. Gostei principalmente da “aspereza” em que o filme se mostra. Da forma crua como as coisas são apontadas. Com tudo isso em volta, a esposa tenta dar uma retomada em suas vidas. Procura fazer as coisas serem “como antes”.
Tudo culmina para o fato de uma viajem para a França, onde o jovem casal com seus filhos poderão recomeçar, ela como secretária do governo e ele com tempo livre para estudar e fazer o que quisesse. A trama segue nessa linha fina de esperança de um novo começo. De como entre uma coisa e outra, algumas palavras e oportunidades são perdidas. Não é uma vida fácil. Não são escolhas fáceis. Dado momento, um personagem, um ex-matemático que foi usado em tratamentos mentais pesados, ele simplesmente os interroga de maneira incisiva, sem papas na língua, sem se ligar nas aparências como todos ali acabam se ligando. Trabalho, mulher, filhos, casa bonita em um bairro promissor. E nada disso importa perante a infelicidade e rodeiros para se burlar tal empecilho. Não é um filme fácil, até porque ele não é linear. Pode queimar alguns parafusos de quem gosta de assistir filme com “ti-ti-ti” e cheeeeios de explicação do “por que disso” e “por que daquilo”. É um filme onde os personagens são a chave. Onde as interpretações são os “efeitos especiais”. Um ótimo filme de Sam Mendes. Repare nas interpretações de DiCaprio e Winslet. Fantásticos! Ela ainda mais, pois muito da carga dramática do filme parte de sua personagem. O final então...! Soberbo! Por isso ela abocanhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz por esse filme.
Foi Apenas Um Sonho (Revolutionary Road)
Direção: Sam Mendes
Elenco: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Kathy Bates, Michael Shannon



Direção: Sam Mendes
Elenco: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Kathy Bates, Michael Shannon
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