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Smallville já foi legal

Lembro quando o seriado Smallville estreou na TV aberta, no caso, o SBT. Cara, foi um “estouro”. A coisa toda foi muito bem-vinda. Em pouco tempo todo mundo (que curte seriados em geral e não tem acesso a TV a cabo) estava falando de Smallville, onde se mostrava a adolescência do jovem homem de aço e futuro maior herói da Terra (pelo menos no Universo DC Comics). Sou fã do Superman desde sempre, tenho uma pancada de quadrinhos do personagem em diferentes fases e por diferentes criadores. Smallville era (e é) pra mim uma realidade alternativa da jovem vida do Superman. Desde o começo isso ficou bem explicito quando Lex Luthor acaba ganhando voz no Universo do futuro herói ainda muito cedo no seriado. Nos quadrinhos depois da reformulação do Universo DC em 1985 a origem aceita é de que Luthor e Clark nunca se viram na vida até Clark ir para Metrópoles já adulto (alguns anos atrás uma minissérie tratou de adequar Lex Luthor no passado de Kent). Começa aí a primeira discrepância. Com isso outros personagens acabaram ganhando versões bem diferentes da dos quadrinhos, como Lana Lang que é ruiva na verdade na versão do gibi e é ela quem tem uma quedona por Clark. Já Peter Ross é um cara loiro e branco, diferente da versão para TV. Mas nada disso me incomodava muito nessa primeira temporada. Muito pelo contrário, eu achava legal. Diferente. Dizia a mim mesmo, “por que não”? Era uma nova versão, uma nova forma de enxergar o ícone do Superman. O que era legal mesmo eram as histórias. O roteiro! O que salvava todo esse disparate estava no texto, estava na forma de lidar com essas mudanças tão radicais.
E funcionou por um bom tempo! Acredito que uma grande quantidade de fãs, mesmo os mais xiitas, aprovou Smallville. Um seriado bem produzido, com uma boa estrutura e nada infantilizado. As primeiras aventuras do Clark Kent se resumiam a salvar pessoas, deter “mutantes” que surgiram em Smallville por conta da chuva de meteoros de kriptonita do qual trouxe Clark das “estrelas” anos atrás (não existe isso nos quadrinhos) e seus arroubos da juventude, cortejando a sempre fresquinha Lana Lang e dando toco na simpática Chloe Sullivan (ela não existe nos quadrinhos), que tinha queda monstra por Clark. Com o passar de alguns episódios a trama foi focando mais para a sua herança alienígena e isso foi ficando muito interessante chegando a culminar no último episódio da primeira temporada com uma cena fodástica com Clark no meio de um buraco onde estava enterrada sua nave e com uma trilha sonora que quase tocava a música tema dos filmes do Superman criado por John Williams. Cara, isso foi bom demais. A segunda temporada começou quente, e depois foi segurando o ritmo, e de repente a primeira cagada do seriado: todo que acontecia em volta de Clark, qualquer distúrbio climático ou uma pessoa com super poderes, tinha a ver com as “pedras de kriptonita”. Chegou uma hora que já tava mais do que chato esse esquema.
Nas temporadas seguintes a coisa foi decaindo, com episódios cada vez mais intrincados, com absurdos cada vez mais questionáveis. Pra mim tudo parou quando Lana Lang virou uma “ninja assassina” e Chloe Sullivan virou uma mutante. Ou uma coisa assim. Aí muita coisa mudou. Virou casa da mãe Joana. Lois Lane apareceu e virou fixa na série muito antes do tempo, Jimmy Olsen aparece também e ele é mais velho (!) que Clark Kent (e ele morre!!), e aparições de outros personagens da DC começam a pipocar pra ver se dava um salva do seriado que já ia mal das pernas. Aquaman, Flash, Caçador de Marte, Canário Negro, Arqueiro Verde (que come a Lois) e vira uma putaria sem eira e nem beira. Eu parei de assistir na sétima temporada. Aliás, na sexta, pois já começa a alternar e às vezes nem tinhas saco. Aí começou o real problema do seriado. Primeiro Michael Rosenbaum, o Lex Luthor, pede pra sair do seriado. Já num aguentava mais. Logo em seguida Kristin Kreuk também pede pra sair e ficamos então sem Lana Lang. Pra completar os dois criadores Alfred Gough e Miles Millar também vazam deixando uma batata quente pra trás. Alguns produtores foram chamados pra assumir o barco furado e começam a apelar como dá. Tom Welling ameaça sair também, mas seu salário é substancialmente aumentado.Vários personagens e vilões do Universo do Homem de Aço começam a pipocar no seriado como Apocalipse (que matou o Superman nos quadrinhos), Zod ganha corpo, Brainiac, e por aí vai. Lana casa do Lex, Clark vira badboy por conta de uma kriptonita de cor difente, Chloe morre e volta com super poderes, Lois vira a putinha do seriado, o pai de Clark papoca, Lionel Luthor vira “bonzinho”, a mãe de Clark dá pro Lionel, Supergirl "descoladinha" e vira uma Malhação super foda. Se eu fosse enumerar tudo de ruim que vem sendo feito no seriado, com certeza eu precisaria de dois blogs enormes.
Tudo que pode ser feito pra tentar segurar o seriado está sendo feito. A maior cartada vem sendo mesmo a aparição de heróis da DC no seriado. Isso tem feito alguma diferença. Vale dizer que o seriado ainda tem muitos fãs. A maioria esmagadora são de pessoas não fãs de quadrinhos ou do personagem em si. Mas há fãs do personagem que devem adorar isso. Eu já gostei e muito. Hoje num tenho saco nem de olhar uma notícia muito longa sobre o seriado nos sites especializados. O mais legal é que na verdade os produtores queriam um seriado nos mesmos moldes de Smallville para o Batman, mas como um filme estava sendo planejado pela Warner os produtores acabaram com Clark Kent. Duas tentativas de se criar algo parecido com isso foram orquestradas, uma com Aquaman e outra com o Robin. As duas deram com os burros n´água, sendo que Aquaman ainda teve um episódio piloto que nem foi ao ar, mas pode ser pego na internet facilmente. Smallville é em parte (bem pequena) baseado na minissérie As Quatro Estações de Jeph Loeb e Tim Sale, onde se mostra a juventude de Clark Kent. Mas é só como base, pois as duas concepções finais são completamente diferentes. Só voltarei a assistir Smallville um dia quando Clark Kent vestir o uniforme do Superman. Aí eu dou uma olhadinha, até lá, sem saco pra isso.

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