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Números de Hollywood ditam as regras

Hoje para um filme ser “sucesso” ele tem que sair quebrando recordes de bilheteria em determinados tempos, como “recorde para um final de semana”, “recorde de melhor abertura durante dia tal a tal comparando o mesmo período do ano anterior”, “recorde de melhor bilheteria de todos os tempos”, recorde, recorde, recorde... e por aí vai. No filme O Amor Não Tira Férias (2006), um personagem que já havia sido um grande roteirista de Hollywood dá uma alfinetada nessa crescente vertente hipócrita quando diz que para um filme ser “bom”, ele tem que ser um blockbuster de fim de semana que fique em primeiro lugar no “Top 10” de uma lista de filmes que estão em exibição ou estreando. Ele questiona essa maneira de classificar filmes como bons ou ruins se baseando apenas em números e cifras. E eu concordo com esse personagem. A industria de cinema deixou de ser a “Indústria de Magia” para se tornar a “Indústria dos Dividendos”.Claro que um filme tem que fazer dinheiro para bancar seu alto custo, principalmente nos chamados filmes de versão- ou Blockbusters- ou no Brasil, como é conhecido, “Filmes de Férias”. Todos os envolvidos esperam obviamente terem seu retorno. Mas existem muitas discrepâncias entre os filmes antigos dos grandes estúdios para os de hoje. Eu sei que os tempos mudam, no entanto a forma mercenária e burocrática em que um filme é pensado hoje, é digno de pensamentos de um cérebro robô. Tudo é cálculo. Tudo é somado ao custo/produção/amantes do cinema/fãs/pessoa comum/grana/investimento/retorno rápido/franquia. A forma de pensar dos estúdios hoje é ver se conseguem arrancar uma franquia firme para faturar todo ano, vide aí Harry Potter, Crepúsculo, Velozes e Furiosos, etc. Antes os filmes não eram pensados com essa perspectiva. O filme era pensado primeiramente em seu público. Os caras faziam filmes para divertir acima de tudo. Caras como Steven Spielberg e Richard Donner por exemplo.Hoje os filme são feitos para abocanhar um “Top 10”. São pensados em franquias e vendidos como produtos de prateleira. Mas vale dizer que nem sempre um filme que atinja o topo de uma pesquisa semanal é o melhor. Já vi muito, mas muito filme ruim chegar no topo e muito filme bom ficar bem abaixo disso. Filmes fracos como Crepúsculo, Transformers, e modinhas assim acabam sempre no topo não por serem grandes filmes, mas sim por terem ótimos suportes. A última boa franquia que vi, que foi feita acima de tudo para agradar o cinéfilo e não cinéfilo e atingiu todos em cheio foi a trilogia do Senhor dos Anéis. Um filme pensando com carinho e respeito, que uniu bons profissionais, uma boa estrutura de marketing, personagens carismáticos, boa adaptação e boa direção, tudo isso somado a apenas um grande objetivo: entretenimento.Claro que a New Line e a Warner Bros. queria sua grana de volta, mas como deixaram em parte a produção correr praticamente livre sem intervenções burocráticas, os longas de Peter Jackson ganharam alma e abocanhou uma grande porção de fãs que estavam fielmente todos os finais de anos durante 3 anos na porta do cinema fazendo fila. Pro bem ou pro mal, Senhor dos Anéis dividiu o mundo dos negócios dentro de Hollywood, mostrando categoricamente que é possível unir boa produção a sucesso. Hoje os estúdios não conseguem mais produzir nada sem que os prospectos sejam lançados antes e muitos trabalhos em potencial acabam pegando poeira na prancheta. O sucesso de um filme nem sempre se faz com números, mas sim pelo tanto de pessoas que gostaram daquilo. Num adianta 400 pessoas saírem duma sala de cinema num filme de semana falando mal daquilo que assistiu, e ainda assim o filme ir bem numa bilheteria. Tem filme que tem menos apelo e consegue agradar um público maior. Sou mais quinze pessoas falando bem um filme que ocupa uma sala de um multiplex com 20 salas, do quê um blockbuster que ocupe cinco salas e todo mundo falando mal. Ele pode ficar com a liderança dele, que eu prefiro ir no que fica em quinto lugar para me divertir. Bons tempos era quando Hollywood construía sonhos... hoje aquele lugar constrói apenas produtor enlatados.

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