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O fim do cinema como o conhecemos?

Durante entrevista no Festival de Cannes, o diretor e roteirista Quentin Tarantino deu uma declaração interessante sobre o cinema atual com filmagens em câmeras digitais e como o cinema de vanguarda está morrendo por conta disso. Comparou as novas projeções a enormes televisores por conta das imagens em alta definição e indagou porque cineastas consolidados estão abandonando os filmes em 35mm. Admito- e vários cinéfilos mais antigos- que o filme em 35mm tem um charme e elegância que os novos filmes com suas imagens de queimar as retinas não têm. Hoje os filmes são muito mais produtos de estúdio pensado em vários artifícios e comodidades, mas para quem viveu nos cinemas dos anos até meados de 1990 sabe que aquela imagem suja, cheia de granuladas e com as "pontas de cigarro" da montagem no canto superior direito me parecem muito mais convidativas e reais que as de hoje filmadas em HD. 

Lembro que quando eu assistia um filme nos cinemas eu adorava aquela imagem suja, me sentia dentro do set de filmagem. Hoje apesar da imagem limpa e "bonitinha", a coisa ficou estérea. Quase como se fosse um alienígena pra mim. Uma coisa que não entendi quando comprei meu blu-ray foi a necessidade do granulado dos filmes em alta definição, e até fiquei meio puto da vida com isso, mas aí me toquei que aquela é a verdadeira alma do filme. Aquele granulado faz parte da película, dos filmes de verdade. A tecnologia veio para agregar e claro, facilitar e agilizar aos realizadores de filmes pelo mundo, até porque com o digital qualquer um com pouca verba pode realizar um curta. Mas admito que a nova tendência do mercado é a total migração da mídia em 35mm para o digital. Os cinemas do Brasil, por exemplo, já estão trocando suas salas "analógicas" pelas digitais. A justificativa, claro, é a praticidade do arquivo digital invés dos enormes e pesados rolos com filmes em 35mm. 

Muitos cineastas acabam acrescentando o "granulado" na pós-produção apenas para se sentirem mais cineastas. Essa é uma prática comum até nos blu-rays. Anos atrás eu queria muito fazer um filme, ser cineasta. Cheguei a escrever um roteiro de filme e vários curtas, mas só me imaginava filmando em 35mm, nunca em câmeras digitais. Me chamem de nostálgico! O futuro do cinema e de toda a indústria infelizmente será essa mesma, mas me entristece ver que a magia do cinema que conheci está virando um enorme deserto de gelo. 

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