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O Poder dos Números: Cinema de Sucesso vs Bilheteria de Fim de Semana

Quando eu era moleque nos de 1980 não tínhamos nem um terço das informações que temos hoje quando se trata de bastidores, números, produções, etc, sobre filmes de cinema. Então o “termômetro” era muito mais intuitivo entre as pessoas. O famoso boca a boca. Na imprensa era tudo muito mais travado, as noticias demoravam em chegar, as coisas não tinham um alcance realmente amplo. Digo isto porque hoje em dia com o formato de internet as informações são praticamente instantâneas. E com isso ganhamos muito mais conhecimentos sobre as coisas que gostamos. Mas essa ferramenta também é uma faca de dois gumes. Eu sou amante de filmes desde que me entendo por gente. Nos de 1980 minha formação era infinitamente limitada. Eu só assistia aos filmes na TV e aquilo é o máximo que eu tinha. Vez por outra perdida algum programa de entretenimento falava sobre alguma produção de Hollywood, mas não com as mesmas informações que se dá hoje em dia. Os filmes surgiam, tinha suas continuações em várias sequencias que oscilavam muito de qualidade, mas ainda assim as coisas seguiam. Hoje a coisa mudou bastante!




De acordo com a nova ordem mundial da internet e dos críticos formados na frente de um computador, o filme só é considerado sucesso se em seu primeiro fim de semana ele quebrar algum recorde ou passar alguma projeção em pelos menos uns 50 ou 100 milhões de dólares baseado em seu orçamento e sua procedência (franquia famosa, diretor famoso, personagem famoso, etc). Se ele não estiver dentro desse “padrão”, automaticamente ele é considerado um fracasso, sua franquia planejada para e aí se cria um limbo de anos. Fim! Agora desacelerando um pouco pra reflexão sobre o inicio de todo esse texto. O filme O Amor Não Tira Férias (2006 da diretora Nancy Meyers) tem um personagem chamado Norman (Shelley Berman) que é um antigo roteirista aposentado. Em um momento do filme durante uma conversa, Norman diz que para um filme ser considerado um sucesso ele precisa quebrar recordes de bilheteria na estreia de seu fim de semana. Ele pode ser bom como for, mas se não atender essa questão, será considerado como um fracasso. Pragmático, mas correto para os padrões de hoje.


Voltando ao “crescendo nos de 1980...” eu fui de uma geração no Brasil que detinha uma parcela quase zero de informações sobre números. Se alguma coisa era sucesso estrondoso ou se um fracasso retumbante, essa dimensão dificilmente nos alcançava. Nas bancas algumas revistas especializadas como a SET e a Vídeo News eram a única fonte confiável sobre o que acontecia nesses bastidores, mas não eram revistas para um menino de 10 anos de idade, pois os preços abarcavam os bolso de qualquer um- ainda mais num país que saia de uma Ditadura Militar enfrentando uma crise interna com inflação descontrolada. Mas a vida seguia e os filmes a meu ver faziam sucesso, pois eles sempre ganhavam sequencias independente de sua qualidade. Hoje nada ganha sequencia se primeiramente o filme não obtiver uma bilheteria robusta no seu primeiro fim de semana e se não se mantiver também fazendo dinheiro farto nas semanas seguintes. Sites colaboram negativamente ou positivamente para isso. É muito comum ter várias discussões acaloradas em fóruns ou redes sociais sobre determinado filão, filme, franquia, personagens, diretores, etc e de forma quase brutal. Mas o que me deixa mais perplexo é saber que os fãs de hoje são muito sugestionáveis. Na verdade não a maioria e isso é bom, mas uma grande parcela sim e isso gera um efeito dominó na indústria que nem serve de termômetro, mas sim de aviso quanto ao comportamento depreciativo de pessoas que esquecem o entretenimento é um campo para diversão e não de guerra.


O mundo da grande rede está repleto de infinitos sites e blogs que fomentam discussões. E isso é saudável, mas dado o nível de intolerância e falta de respeito, gera situações que beiram o caos. E todo esse caos é refletido em dados que viram números negativos em várias produções. O poder de sites, por exemplo, como o Rotten Tomatoes tem criado uma geração de energúmenos que baseiam o sucesso de qualquer coisa relacionado a cinema e derivados a um agregador de críticas. Se o Rotten Tomatoes der uma porcentagem pequena a um determinado filme, ele é considerado automaticamente um fracasso e péssimo. O que particularmente, acho bem idiota. Claro, os números fazem sim de uma produção um fracasso ou sucesso comercial, afinal, quanto mais pessoas assistindo, mais grana entra. Mas entrar muita grana é sinônimo de qualidade? Os Transformers dizem que não- só pra citar um exemplo simples. Como fã me incomoda o fato de tudo hoje ser praticamente baseado nisso: em mídias duvidosas, em números que muitas vezes são manipulados por sites como os agregadores que influenciam mentes fracas a começar uma “corrente negativa contagiosa”, em estúdios e criadores de pouca visão. Todo o conceito de sucesso só existe mesmo dentro de um parâmetro fraco e sem peso, baseado em vozes que não me representam como cinéfilo e fã da Sétima Arte.


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