
Pedro era um garoto comum que gostava de brincar com outros garotos da rua. Nunca foi formidável na escola, mas também não era o que ficava pra trás tentando resolver as tarefas. Mas nessas férias ele não está muito feliz. Todo ano ele vinha ao sítio do tio Oswaldo e ficava aqui o tempo que podia. Adorava o lugar e seu tio amalucado. Mas dessa vez a coisa não foi tão boa quanto das últimas vezes. Não mesmo. E ele continuava a olhar perdido para a árvore, volta-se para o lago e depois para o chão. Então seu primo Marcos- mais conhecido como Marquinhos ou olhão- aparece. Marcos era um garoto fora do peso com os cabelos nos olhos e dentes pequenos para a idade. Ele e Pedro não se davam muito bem. Tinha a ver com um boneco que sumira das coisas de Pedro no dia que Marcos o visitou uma vez. Marcos sentou-se do lado de Pedro sem olhar para o menino. Dois anos mais velho que Pedro, Marcos gostava de pregar peças no garoto e por um instante, Pedro achou que Marcos fosse falar ou fazer alguma besteira, mas Marcos parecia tão triste quanto Pedro:
- Eu gostava muito dele, Pedro. Era o melhor tio que tínhamos.
Pedro não responde, só fecha a carranca e mexe os olhos para o lado inverso ao de Marcos.
- Uma vez quando viemos passar as férias aqui- uma que você não veio- eu caí lá do alto, ali de perto do pé de caju, e saí rolando. Bati a cabeça numa pedra e fiquei com parte do corpo na água. O tio veio correndo, me botou no braço e me carregou correndo pra casa.
- Não sei como ele agüentou teu peso!- Pedro pegou-se falando isso sem pensar e no mesmo instante se repreendeu silenciosamente e achou que fosse tomar um murro de Marcos.
- E acho até que eu era mais gordo, sabe? – disse Marcos sem nenhuma reação mais enervada. E continuou. – Mesmo sabendo que eu num era o melhor dos sobrinhos, como ele te achava, ele cuidou de mim.
- Eu não sou o melhor sobrinho. - replica Pedro franzino a testa.
- É claro que é. Todo mundo gosta de você!
Pedro se calou e olhou pro outro lado. Então resolveu conversar:
- O tio era engraçado, sempre me fazia rir.
- É... a mim também. Sei que eu tava o tempo todo tentando aprontar, mas ele nunca me olhava com a cara fechada. Sempre me falava umas coisas, sorria e depois mandava ir brincar lá fora.
- Do que foi mesmo que ele morreu?
- Não sei. Eles não dizem. Nossos pais acham que somos crianças demais. – E agora era Marcos que cutucava a areia.
- Meu pai disse que ele sofreu um acidente. Só isso. Mas não sei do que foi.
- Já minha mãe disse que foi uma doença.
- Pode ter sido uma doença que provocou um acidente!- Disse Pedro olhando para Marcos como que tivesse descoberto o motivo.
- É... pode ser isso também.
- Ele dizia que aqui apareciam discos voadores.
- Eu já vi um. – Rebate Marcos fazendo sons com a boca e usando a mão como que imitando uma nave.
-Mentira.
- Eu vi sim. Tava até com o tio na varanda quando uma nave pousou por detrás desses matos.
- Eu não acredito.
- Ele não vai poder confirmar agora, mas é verdade.
- Eu sei que tem um bicho nesse lago. Ele que disse!
- A única coisa que tem aí é lama e sapos.
- Mas ele disse...
- Acho que o tio Oswaldo falava muito.
- É...
E os dos primos riram juntos. Por alguns momentos, eles se sentiram unidos. O sol já estava flertando com a noite e os garotos ficaram conversando sobre jogos, desenhos animados, filmes, futebol... parece que tinham mais coisas em comum do que julgavam. Outrora sempre brigando e agora pareciam amigos de anos. Pelo menos tinham um ao outro para compartilhar a dor e sentiam que deviam isso ao seu tio, que de uma forma ou de outra, juntou os primos numa bela amizade.
Aquele lago mais tarde desaparecera. Com o tempo virou pasto e depois foi queimado por fazendeiros. Mas aquele dia, o dia em que Pedro e Marcos se tornaram os melhores amigos, aos contos de disco voadores e monstros, ficará para sempre na memória deles. O lago era tudo o que o tio Oswaldo falou... mágico.
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