O novo filme de Peter Jackson, diretor da trilogia Senhor dos Anéis e responsável por ter trazido o King Kong ao novo século, é no mínimo plasticamente bonito. Um Olhar no Paraíso (The Lovely Bones/2009) tem todos os elementos para se concorrer a premiações e coisas do tipo. Ele visualmente é mesmo muito bonito, fruto de efeitos especiais e da experiência de Jackson com fantasia. Mas para por aí. O longa deixa muito a desejar no quesito desenvolvimento. Dá pra notar que Peter Jackson resolveu "amanciar" o tema em questão. Na história menina de 14 de anos é estuprada, morta e esquartejada pelo vizinho. Daí no céu, ela consegue acompanhar alguns momentos das pessoas que a cercavam em vida. Tinha tudo para ser um filme denso, no melhor estilo O Sexto Sentido ou O Orfanato, mas o diretor preferiu percorrer o caminho inverso e entregou um filme mais leve do que poderia ser com um visual de encher os olhos. Eu disse que o filme era bonito, e não fantástico.
Mas apesar desses infortunios, Um Olhar no Paraíso funciona como deve funcionar, mesmo que não tenha a mesma intencidade que poderia ter. O cineasta divide praticamente o filme em dois, um contando a história das pessoas que a menina deixou para trás e a outra o "surrealismo" do céu, onde a jovem assassinada começa a viver em um "conto de fadas" cheio de desejos que a supriam em vida. Admito que achei esse trecho meio piegas, parecia filme da Xuxa. Aliás, com todo o visual fantástico do longa com as passagens no Paraíso, os clichês acabaram se sobressaindo dentro do corpo dessas mesmas passagens. Chão que vira água, coreto que apodrece e afunda, nuvens douradas, árvores perdidas no horizonte... Faltou um pouco mais de arrojo, por mais que fossem cenas bem produzidas. O que temos no final das contas é de fato um filme menor, que se tivesse caído nas mãos de um cineasta acostumado a orçamentos pequenos, poderia ter rendido uma produção mais forte e densa.
O que salva mesmo pra mim são as poucas passagens de suspense que rola dentro da película. Nunca li o livro The Lovely Bones de Alice Sebold, por tanto não tenho embasamento para comparar as obras, mas acredito que quando algo é adaptado, podemos ousar um pouco mais, até porque um filme tem um tempo menor para que as coisas aconteçam. Talvez aja por parte do espectador um pouco de frustração quando as luzes do cinema acenderem, afinal, a justiça do longa é providenciada de uma maneira muito dúbia. Digna de novelas da Globo. Mas no geral, com todos problemas e defeitos, o filme pode ser um bom programa. Jackson não é um amador, apenas não aproveitou tudo que o filme poderia render. Preferiu dar ao estúdio um filme com censura de 12 anos e deixar o resto fluir através das cenas oniricas e do drama contido.
Direção:
Peter Jackson
Roteiro:
Fran Walsh, Philippa Boyens, Peter Jackson, Alice Sebold
Elenco:
Saoirse Ronan, Mark Wahlberg, Stanley Tucci, Rachel Weisz, Susan Sarandon
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