"Quadrinho é pra ser barato". "Eu comprava quadrinho com a grana do lanche". Estamos vivendo um segundo "boom" de preços em quadrinhos que tem tudo para ser negativo de todas as formas- o primeiro e drástico foi da Abril na virada do século 21. Quando comecei a colecionar efetivamente quadrinhos em 1994 eu literalmente comprava meus títulos com o dinheiro do lanche. Super-Homem, Batman & Liga da Justiça, Homem-Aranha 2099, X-Men, Superaventuras Marvel e alguns especiais por aí. Eram poucos títulos, mas de verdade, eu conseguia de boa e ainda sobrava. Já vi gente dizendo que quadrinho sempre foi caro. Nem sempre, mas teve seu período complicado. Nos anos de 1980 para começo de 1990 eu não conseguia comprar. Os quadrinhos aumentavam todo mês e não era pouco graças a uma enorme crise econômica que o país viveu. Eu só tinha quadrinhos no Natal e aniversário.
Vivíamos uma superinflação carnívora naquela época. Mas em meados dos de 1990 com a chegada do Plano Real muita coisa mudou. Eu não tinha condições de comprar quadrinhos naquela época. Dinheiro que entrava era pras despesas da casa e eu era um estudante do Ensino Fundamental. Um liso! Mas mesmo com o pouco dinheiro do lanche, eu consegui começar minha coleção. Tímida, mas dava. E muita gente que já trabalha conseguia mais ainda, pois dava pra manter sim a grana dos quadrinhos. Na virada do século a Abril meteu a famigerada Linha Premium e acabou com os formatinhos baratos. Muita gente chiou, mas a editora apostou em "qualidade". Qualidade é sempre bom, mas com ele vem aumentos. E nesse caso bem salgados. Um gibi de 84 a 100 páginas que era a média saiu de R$ 3,50 para R$ 10,00.
Se formos ver mesmo, as edições Premium de fato ganhavam em qualidade. Eram 160 páginas em papel LWC e capa cartão por R$ 10,00. Mas para a época era como tirar as mensais de 52 por R$ 10,00 hoje e trocar por encadernados mensais de 160 páginas por R$ 30,00. Aí sim a máxima "quadrinho 'nunca' foi barato" se aplica. Tempo passou e a Panini veio ao Brasil, tomou a Marvel da Abril, lançou quadrinhos de 100 páginas em formatão, capa cartão, papel LWC a R$ 6,90. Bem-vindo de volta, coleção! A Abril sentiu o baque e se desesperou. Tinha ficado com a DC e voltou aos formatinhos a um preço bem baixo. Mas tarde demais! Em pouco tempo perdeu os direitos da DC e tudo ficou com a Panini que aqueceu o mercado de quadrinhos no Brasil com muitos formatos e vários deles econômicos. Pau vai, pau vem, os formatos precisaram se adaptar para que as revistas não ficassem mais caras. O formatão das mensais virou formato americano, mas manteve o bom papel e o mesmo preço. Depois saiu o LWC e virou pisa brite para manter o preço e ficou assim por anos. E por fim há alguns poucos anos, saiu de vez o papel jornal e voltou o LWC, mas com menos páginas e preço um pouco salgado.
E agora uma nova e não bem aceita mudança: saiu capa a capa couchê e entra a capa cartão fosca. Sai o LWC e entra o couchê no miolo. E claro... com isso novos valores. O resultado? Muita insatisfação dos leitores. Mas num foi pra melhor mudança? Foi na parte editorial, mas na parte que mais interessa, não: o preço! Com isso o quadrinho que deveria ser mais simples e mais acessível passa a ser um produto mais caro e menos acessível. A editora está sendo alvo de muita insatisfação por tomadas editorais que estão desagradando os leitores- fora os constantes vacilos de revisão. Num momento de crise editorial e desemprego, a tomada da Panini foi um verdadeiro retrocesso. Algumas pessoas vão tentar manter a coleção, mas vão desistir com o tempo. Algumas nem vão mais colecionar. Algumas poucas vão conseguir por ter uma boa condição financeira. Uma decisão editoria equivocada e que com o tempo será motivo de encalhes e prejuízos para a editora. Quadrinho era pra ser barato e está cada vez mais artigo de luxo.
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