Finalmente assisti GrindHouse, filme de Tarantino com Rodriguez. Pra quem não sabe, o filme “dois em um” foi um fracasso lá fora. No festival de Cannes ninguém entendeu nada e quando o filme de Robert Rodriguez acabou (Planeta Terror), todo mundo foi embora sem saber que em seguida o de Tarantino começaria. Fora que os filmes (juntos) ficou com mais de três horas de duração. A Weistein (produtora) resolveu dividir o filme em dois e fazer lançamentos distintos como Planeta Terror (que já passou no Brasil) e À Prova de Morte que deve estrear aqui em março. Mas eu consegui o filme ainda como GrindHouse e é brilhante a proposta como um todo. Pena que o “povão” não sacou bem a idéia de homenagear as GrindHouses que era como se fazia cinema barato na década de 60 e 70 filmando filmes B de terror, suspense, policial regado a violência, sexo e diálogos toscos. Vamos lá então.
Planeta Terror. Robert Rodriguez é um cineasta jovem que poderia tá filmando blockbusters a torto e a direito. Moral pra isso ele já tem. Mas o cara tem aquela visão que só os diretores que cresceram em cinemas de esquina que passavam filmes trash B de terror e ficção científica. E gosta disso. Ele gosta dessa temática. Seu primeiro filme de destaque foi A Balada do Pistoleiro (1995), com Antonio Bandeiras e depois foi uma série de filmes dispares. De ficção científica ao terror. Mas sempre mantendo a linha “trash b consciente”. Por certo, que sua parceria com o seu, como dizer, “mestre de inspiração” Quentim Tatantino, em GrindHouse, pudesse render uma boa produção. E Planeta Terror é isso.
Uma boa produção inspirada nas GrindHouses que existiam na época. Tosqueira, gente sangrando, correndo, closes fechados e angulações dramáticas. Rodriguez faz aquilo que tem de fazer no filme com suas características facilmente perceptível pra quem conhece o trabalho do cineasta. Ele emula com precisão as técnicas dos filmes daquela época, quando as GrindHouses exibiam seus filmes toscos. E é aqui que Rodriguez talvez deixe a desejar. Sou fã do cara, por filmes como Drinque no Inferno, Sin City, Prova Final, mas dá pra ver claramente o quanto ele tenta nos jogar no climão trash, mas fica só na plástica. O filme é ótimo, verdade seja dita.
Mas é como uma prótese de silicone. Pode parecer uma analogia vulgar, mas assim como uma prótese, esse filme apenas mostra por fora aquilo que ele não é por dentro. No entanto, Rodriguez, que escreveu, produziu (ao lado de Tarantino), editou e até compôs a trilha sonora (e ainda foi o diretor de fotografia), consegue cumprir com propriedade a intenção da película. O filme trata de um acontecimento bizarro que se sucede numa cidade pequena, quando militares liberam um gás tóxico que transforma as pessoas em zumbis canibais (iça!) e começa o “planeta terror”. Tudo começa com pessoas e ferimentos cutâneos ou pústulas saindo da língua. Começa a partir daí uma infecção que vai tomando conta da cidade. E claro que há aquele “grupo de sobreviventes” que tentam com algumas armas chegar em algum lugar. Sangue com cara de groselha misturada ao molho de tomates, mulheres gostosonas, xerifes machões, mães com filho a tira colo, mártires... enfim. De tudo. A coisa funciona bem de certa forma. Com humor negro e personagens caricatos. A colagem de referencias datada funciona e apesar de ter horas que você percebe que está tomando um remédio genérico, é só se sentir num cinema detonado que vai ficar tudo bem.
À Prova de Morte. Bem... do “dois filmes em um” propostos pelos dois cineastas Quentim Tarantino e Robert Rodriguez, no melhor formato GrindHouse, À Prova de Morte é o que parece ser o mais natural a proposta. Como assim? Bem... Planeta Terror do Rodriguez é uma cópia bem feita do cinemão “Grindhouseano” (e isso foi um neologismo), mas Tarantino não emula, ele faz um de fato. O fato é que dos dois filmes, À Prova de Morte é o que mais parece com aquele cinema dos anos 70, onde se fazia filmes de baixo orçamento, juntava-se com outro igualmente baixo e se vendia por dois! Os chamados... GrindHouses.
Tarantino trás o seu filme “de sempre” como toda aquela carga de cultura pop imposta em toda a película. Você tem os diálogos “cool” com toda informação paralela sobre os personagens, as cenas em angulações simples e close ups específicos, violência caricata e muita música que funciona em qualquer época. Tarantino é um mega diretor que sabe o que fazer e como fazer. Ele faz mais do que “emular” como o companheiro Rodriguez, ele produz um legítimo filme do esquema GrindHouse, mas sem perder suas originalidade como criador/ diretor. Ele faz gostosas dançarem eróticamente, carros possantes disputarem num pega pelas auto estradas e o sangue jorrar como um poço de petróleo recém perfurado. O filme joga um dublê de idade (Kurt Russel) como um assassino doentio que usa seu carro feito para capotagens e coisas assim para acabar com suas vítimas, sempre mulheres pelas estradas. Por isso que ele diz que seu carro é à prova de morte, o que dá título ao filme.
Dá pra ver o quanto o filme não se esforça nem um pouco em parecer o que não é. Tarantino não é burro. E a homenagem sai dentro do esperado. A perseguição do último trecho do filme é eletrizante e nos joga ainda mais dentro do universo que era aquele cinema barato, cheio de tosqueira e violência. Tarantino é um gênio. E prova-se bem isso. O cara sabe mesmo o que faz. Se você prestar bem atenção, vai poder notar inclusive homenagem a seus outros filmes. Fique de olho. No final das contas? Sou suspeito pra falar algo, porque sou fã dos dois cineastas e ainda mais, sou fã desse tipo de filme (pois é... sou meio tosco), mas falando de cima do muro, vale a entrada no cinema. É o tipo de filme que não se faz mais.
Planeta Terror TerrorEUA, 2007 - 97 min- Ação / Ficção científica Direção e roteiro: Robert Rodriguez Elenco: Marley Shelton, Rose McGowan, Freddy Rodriguez, Naveen Andrews, Tom Savini, Michael Parks, Josh Brolin, Carlos Gallardo, Bruce Willis, Quentin Tarantino, Stacy Ferguson
À Prova de Morte Death Proof EUA, 2007 - 114 min- Aventura / Ação / Terror Direção e roteiro: Quentin Tarantino Elenco: Kurt Russell, Rosario Dawson, Vanessa Ferlito, Jordan Ladd, Rose McGowan, Sydney Tamiia Poitier, Tracie Thoms, Mary Elizabeth Winstead, Zoe Bell
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