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Dias Comuns de um Diário Fechado- Sonhos Futuros

Curitiba, Paraná. Um domingo de sol depois de uma semana de chuva. Algumas pessoas aproveitam essa pausa no frio que vem fazendo nos últimos dias para passear em lugares agradáveis. E era isso que o Pedro e Marisa faziam num parque que ficava próximo de onde moravam. Recém casados, ambos estavam aprendendo a arte da convivência. Marisa caminhou a frente de Pedro e sentou-se debaixo de uma árvore de copa larga e folhas verdes. Seus olhos castanhos claros fitavam Pedro caminhando em sua direção. Ele sorria para ela como se estivesse vendo o próprio brilho do sol refletido seus olhos. Pedro trabalhava como corretor de imóveis e ganhava relativamente bem. Ela estava para se formar em psicologia. Um casal feliz com um futuro promissor. Pedro pára perto de Marisa e se agacha. Morde o lábio inferior e em seguida acaricia o rosto da esposa com doçura. Sorri apaixonadamente e senta-se ao lado dela. Brinca um pouco com a grama e olha ao redor. Depois se volta para Marisa a olhando com muito carinho. E ela sorri de volta falando suavemente:

- O que foi?
- Como assim?- pergunta Pedro sem muito interesse.
- Parece que tu tá me vendo pela primeira vez, Pedro.
- Ah, é?- diz Pedro se voltando ligeiramente para o outro lado e retornando a fitar Marisa.
- É. - diz ela ainda com o sorriso doce na boca rosada.
-Impressão sua, Marisa. Eu só te acho, você sabe... linda. E bem... gosto de olhar pra você.

O vento soprou forte e algumas folham dançaram a frente do casal. Pedro respirou forte e recostou a cabeça no ombro de sua esposa esperando um carinho. E foi isso que conseguiu. Ela o acolheu com suas mãos macias e leves. Acariciou ele nos cabelos e rosto. Olhou para longe onde tinha um garoto sentado cavando um buraco com a mãe do lado conversando com outra senhora. Uma senhora mais velha. Podia ser a mãe dela e avó do guri. Piscou uma vez e olhou para o outro lado onde pombos brigavam por farelos de pão perto de uma lata de lixo derrubada. Possivelmente um gato deva ter feito isso. Pedro se despende do ombro de Marisa e fica sentado de frente para ela a olhando com um interesse peculiar. Ela sente o olhar do marido e volta a perguntar:

- O que foi, Pedro? Sério... o que foi? Você tá, sei lá... estranho.
- Não tô não. É só que...
- Só que?
- Só que acho que tenho medo. Medo de não suportar o estresse de viver com outra pessoa...
- Como é? - Marisa o olha rapidamente com certa confusão nos olhos- Como assim, Pedro? Não era o que você queria? Casar? É a responsabilidade batendo na sua cara?
- Não é isso, Marisa. Desculpe... me expressei mal. É que eu tomo pelo meus pais. Eles não são um exemplo de convivência. No máximo se toleram. Tenho medo de terminar como eles. Não quero isso pra mim e você, entende? Quero ser feliz. Quero ser feliz com você...
- Amor... pára. Isso não vai acontecer com a gente. Somos pessoas diferentes. Sabemos o que queremos e sabemos como fazer dar certo.
- Vou ter que viajar. Terei de ir no Rio essa semana. O escritório central é lá e querem uma reunião com os corretores.
- Quando?
- Quarta. Tenho de ir na terça. Depois de amanhã. Será rápido. Na quarta mesmo estou voltando à noite ou na quinta pela manhã.
- Tudo bem, amor... tudo bem. Olha só... desencana disso que você falou, tá? Essa merda que acontece entre seus pais não vai acontecer com a gente. Olha pra mim. Olha pra mim, Pedro.

Pedro a encara profundamente. Quase desvia o olhar por medo. Mas resolveu enfrentar aqueles olhos sinceros.

- Nada vai separar a gente. Eu confio em você e você confia em mim, certo?
- Certo.
- Então isso nos basta. Certo?
- Certo.

Marisa abraça Pedro com força. Ele por sua vez a abraça com a mesma força, mas seus pensamentos estão longe. Em algum lugar perdido entre alguns meses atrás quando ainda era apenas noivo. E agora, terá de ir cumprir o papel para qual jurou cumprir. Ele então a abraça mais forte ainda. E já sabe o que fazer um pouco mais adiante. Só mais adiante...

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