
- O que foi?
- Como assim?- pergunta Pedro sem muito interesse.
- Parece que tu tá me vendo pela primeira vez, Pedro.
- Ah, é?- diz Pedro se voltando ligeiramente para o outro lado e retornando a fitar Marisa.
- É. - diz ela ainda com o sorriso doce na boca rosada.
-Impressão sua, Marisa. Eu só te acho, você sabe... linda. E bem... gosto de olhar pra você.
O vento soprou forte e algumas folham dançaram a frente do casal. Pedro respirou forte e recostou a cabeça no ombro de sua esposa esperando um carinho. E foi isso que conseguiu. Ela o acolheu com suas mãos macias e leves. Acariciou ele nos cabelos e rosto. Olhou para longe onde tinha um garoto sentado cavando um buraco com a mãe do lado conversando com outra senhora. Uma senhora mais velha. Podia ser a mãe dela e avó do guri. Piscou uma vez e olhou para o outro lado onde pombos brigavam por farelos de pão perto de uma lata de lixo derrubada. Possivelmente um gato deva ter feito isso. Pedro se despende do ombro de Marisa e fica sentado de frente para ela a olhando com um interesse peculiar. Ela sente o olhar do marido e volta a perguntar:
- O que foi, Pedro? Sério... o que foi? Você tá, sei lá... estranho.
- Não tô não. É só que...
- Só que?
- Só que acho que tenho medo. Medo de não suportar o estresse de viver com outra pessoa...
- Como é? - Marisa o olha rapidamente com certa confusão nos olhos- Como assim, Pedro? Não era o que você queria? Casar? É a responsabilidade batendo na sua cara?
- Não é isso, Marisa. Desculpe... me expressei mal. É que eu tomo pelo meus pais. Eles não são um exemplo de convivência. No máximo se toleram. Tenho medo de terminar como eles. Não quero isso pra mim e você, entende? Quero ser feliz. Quero ser feliz com você...
- Amor... pára. Isso não vai acontecer com a gente. Somos pessoas diferentes. Sabemos o que queremos e sabemos como fazer dar certo.
- Vou ter que viajar. Terei de ir no Rio essa semana. O escritório central é lá e querem uma reunião com os corretores.
- Quando?
- Quarta. Tenho de ir na terça. Depois de amanhã. Será rápido. Na quarta mesmo estou voltando à noite ou na quinta pela manhã.
- Tudo bem, amor... tudo bem. Olha só... desencana disso que você falou, tá? Essa merda que acontece entre seus pais não vai acontecer com a gente. Olha pra mim. Olha pra mim, Pedro.
Pedro a encara profundamente. Quase desvia o olhar por medo. Mas resolveu enfrentar aqueles olhos sinceros.
- Nada vai separar a gente. Eu confio em você e você confia em mim, certo?
- Certo.
- Então isso nos basta. Certo?
- Certo.
Marisa abraça Pedro com força. Ele por sua vez a abraça com a mesma força, mas seus pensamentos estão longe. Em algum lugar perdido entre alguns meses atrás quando ainda era apenas noivo. E agora, terá de ir cumprir o papel para qual jurou cumprir. Ele então a abraça mais forte ainda. E já sabe o que fazer um pouco mais adiante. Só mais adiante...
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