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"Quadrinhos agora só na Promoção".

Quadrinho para TODOS!


Testemunhei uma cena hoje numa loja especializada em quadrinhos que só me fez ter certeza do rumo completamente errado em que o Brasil está tomando em relação a quadrinhos. Vamos lá...

Frequentando uma das lojas especializadas em quadrinhos aqui da minha cidade eu testemunhei uma cena que me deixou de certa forma triste. Entrou um garoto na loja que deveria ter uns 11 anos de idade e ele foi direto pedir Guerra Infinita. Eu não sei se ele sabia que antes tinha Desafio Infinito, mas acho que ele não tinha esse conhecimento. Ele entrou com o pai e foi direto ao balcão e pediu logo o que ele queria. A pessoa que o atendeu botou o encadernado em cima do balcão e o pai do menino foi puxando a carteira, elogiando o formato bonito e chutou brincando se custava uns R$ 40,00- acredito eu que ele achou que fosse menos pelo tom em brincadeira. Quando a pessoa disse que custava R$ 113,00 o cara deu uma risadinha, fez uma piadinha como “Tô nem vendendo drogas pra gastar tudo isso” e depois perguntou novamente quanto custava. Ele não acreditou que custasse realmente aquele preço e a pessoa que o atendeu meio sem graça reforçou que custava R$ 113,00.




Formatos Variados.

Pronto. O cara olhou pra pessoa e depois olhou pro garoto que me pareceu meio envergonhado. O cara fechou a carteira, empurrou o encadernado de volta, sussurrou alguma coisa em tom de desaprovação pro menino, agradeceu a pessoa que o atendeu e foi embora dizendo que estava ficando velho e não doido pra comprar uma “revistinha” naquele preço (claro que sei que era um formato “de luxo”, mas o cidadão não precisava aceitar aquilo). E detalhe: o cara tinha grana, pois entrou num Corolla preto bonitão estacionado em frente da loja. O que o cara não tinha era falta de bom senso ao se negar em comprar aquele quadrinho.

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"Esse aqui custa sua alma, garoto". Um dia vai ser assim.

O ponto é que quadrinho está deixando de ser algo para novos leitores. Está deixando de ser um produto fácil pra se tornar um entretenimento caro, quase de ostentação mesmo. Essa veia na verdade já está se formando há alguns anos, mas de uns tempos para cá tem ficado mais nervoso. Que mercado está se formando para o futuro? Hoje encadernados que custavam na base de R$ 35,90 estão pra lá de R$ 50,00 em um ajuste que foi realizado em pouco mais de seis meses até a data dessa postagem. O futuro do quadrinho para fãs no Brasil está caminhando para um rumo negativo. Chegará um momento que os valores serão imorais demais para qualquer amante da Nona Arte, mesmo aquele que diz que “Vou esperar aquela promoção marota do Amazon”.


Quanto mais simples + mais barato = a mais gibis em casa.

O quadrinho pra mim teria que ser de fácil acesso. Teria que ter mais opções para os leitores. Há material que já chega diretamente em capa dura a valores absurdos. As editoras como Panini, Mythos, Devir, que são as mais antigas, estão praticando números assustadores para o mercado e pior: sem perspectiva de dar um alivio para os fãs. A qualidade às vezes é questionada em detrimento do custo/beneficio. Não consigo entender porque alguns produtos que poderiam sair em formatos mais econômicos acabam em acabamentos de luxo com extras questionáveis, vide aí Punk Jesus Rock da Panini Comics. Um quadrinho fino que praticamente duplicou de páginas com extras desnecessários e um formato maior que não influencia em nada. E pra piorar, o quadrinho ainda é em preto e branco! Sem falar os mangás que agora estão no valor base por R$ 21,90 numa tomada editorial duvidosa pela Panini. E ainda tem essas coleções como os da Salvat e Eaglemoss que aumentam de preço de tempos em tempos. Sabemos que as coisas aumentam de preço mesmo, que existem a variação do dólar, de encargos operacionais diversos, etc, mas é aí que deve existe uma estratégia de custo em que a empresa venda seu produto ao mesmo tempo que fideliza seu cliente com preços mais amenos. A coisa não tá preta só pras editoras não. Tá preta pra todo mundo.



Imagem retirado do HQZasso de um encalhe monstro sendo vendido com quase 50% de desconto.

Fico triste não só por esses aumentos bizarros, por essas tomadas editoriais canibais, mas por saber que em alguns poucos anos o quadrinho deixará de ser um produto de entretimento de massa no Brasil para ser um produto genuinamente elitizado. Uma diversão tão simples sendo vendida a preço de ouro e privando muita gente de ter sua diversão. Não será mais “comprar quem quer”. Será literalmente “comprar quem pode”! Depois as editoras reclamam de “scans”. Daqui alguns anos esse será o caminho mais viável para os leitores de quadrinhos no Brasil. Falo do Brasil em especifico, pois a Panini, por exemplo, diz que está seguindo as "tendências mundiais", mas não dá pra comparar mercados como o da América, Japão ou Europa com a nossa que é completamente caótica.


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