Dia 30 de janeiro se comemora o Dia do Quadrinho Nacional. Mas esse "comemora" é entre áspas. Os quadrinhistas têm o que comemorar? Se for pelo âmbito de nossa cultura, não. Se for pelo empenho em sempre tentar e lutar, então todos os dias devemos comemorar, pois fazer quadrinhos no Brasil é tomar um tapa na cara. Lembro de que no final dos de 1980 (entre 88 e 89) eu comecei a desenhar meus quadrinhos. Não era um fã. Só tinha lido uma Mônica aqui e outra ali. Eu apenas gostava de Batman, Superman, Homem-Aranha e queria criar meus próprios personagens. Sem saber como proceder ou que nome se dar aos bois, fui pegando folhas de oficio em branco e desenhando e "escrevendo" HQs de um lado e do outro da folha. Aí comecei a me interessar por quadrinhos, mas ainda não era a minha. Aqui e muiiiiiiiito ali eu comprava uma revista em quadrinhos, geralmente Superman ou Batman quando comecei a me interessar por gibis de heróis. Muito antes de saber o que era "Marvel Comics" e o que era "DC Comics". Bem, o gosto foi crescendo, as minhas produções caseiras ganhando mais espaço no meu tempo e de repente eu tinha um Universo enorme de heróis de todos os tipos interagindo entre entre si em "títulos" diferentes. Nasceu meu amor por quadrinhos definitivamente. Suspiros!
Faço quadrinhos a mais de quinze anos. Com o tempo, você vai apredendo muita coisa. Quando se começa, você tem sonhos de que um dia vão te reconhecer nas ruas, que seu nome estará sempre ligado a grandes eventos, que seu personagem será muito famoso, blá-blá-blá! Tem gente que ainda leva essa ideia até hoje. Pode acreditar. Hoje pra mim criar uma HQ é muito mais do que ficar "famoso" ou ter o nome imortalizado. Isso eu deixo pra quando eu tinha 12 ou 15 anos. Hoje o que mais quero é produzir sempre que possível. Acima de tudo eu me agrado. Essa forma de pensar tem duas vertentes distintas entre os criadores: uns querem criar pra si seus personagens e o resto é consequencias de seus esforços; e o outro é aquele que quer criar pra ser famoso, que ama o que faz, mas sua visão é voltada para sua "imortalização" de seu nome e seu incrível personagem. Ainda existe os que ficam em cima do muro nessa papagaiada toda. Eu tô no primeiro escalão. Eu acima de tudo quero me divertir fazendo. Minhas divulgações são simples, se limitando a dois espaços meus na Internet o que pra mim já tá de bom tamanho. Se eu quisesse ser famoso fazendo quadrinhos, eu seria um politico com a meia cheia de grana em Brasília. Sacou a retórica?
Fazer quadrinhos no Brasil hoje, em geral, tem a ver com o amor que se sente por esse segmento. É algo que não é reconhecido, não há espaço na mídia e nem apoio de editoras que preferem pegar material de fora já feito do que ter que pagar uma mão de obra aqui dentro. Mas dentro de nosso sistema, há um mercado forte, vivo e que corre livre nas veias tangentes de nossa cultura: os independentes. O Brasil está cheio de criadores bancando suas produções, criando, contando suas histórias, quer seja em fanzines "rodados" em Xerox, quer sejam impressos, ou até mesmo na midia mais apreciada por alguns, a Internet. Mas o fluxo corrente é muito alto. Somos, e posso me incluir nisso, uma pancada de criadores investindo principalmente em nossos sonhos. Todos nós como criadores, claro, queremos que nossas histórias atinjam o maior numero de leitores possiveis, mas acima de tudo, queremos fazer. Pelo menos é esse o meu sentimento. Eu quero criar! Quero escrever meus personagens. Não sou um bom desenhista e posso ser um roteirista meia-boca, mas ainda eu gosto do que faço. Então temos o que comemorar no dia 30 de janeiro? Temos que comemorar o esforço que fazemos num país que não dá valor ao seu profissional de quadrinhos. Que não dá chance aos que estão começando e que não dá espaço para quem tem talento. Poderiamos crescer mais, se tivessemos espaço.
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