Chegou um momento na carreira de Clint Eastwood que ele disse "Vou ser cineasta pra valer" lá pelo ano de 1971. O ator carruncudo de filmes pedreiras como Dirty Harry e uma pancada de filmes de "bang-bang", vem se dedicando com certa maestria seu reinando atrás das câmeras, no comando dos holofotes tanto como produtor e principalmente como diretor. O primeiro filme dirigido por Eastwood que assisti foi o divertido, mas fraco Cowboys do Espaço (2000) e em seguida foi o denso Sobre Meninos e Lobos (2003). De lá pra cá venho procurado cada vez mais os seus filmes mais antigos. Nem sempre eu encontro, me reservando apenas as produções mais recentes. Logo assisti Menina de Ouro, A Conquista da Honra, Cartas de Iwo Jima, A troca e Grand Torino. De todos esses que citei Menina de Ouro vale o destaque certo. Um filme fantástico do começo ao fim. No entanto depois dessa verdadeira pequena obra-prima, o Sr. Eastwood vem tentando fazer às vezes de Steven Spielberg. Isso não é uma crítica ou até mesmo uma comparação entre os dois cineastas. Nem de longe! O que quero dizer é quer as produções de Eastwood tem ganhado aquela cara de Steven Spielberg pós- A Lista de Schindler. Ficaram pomposos, com uma fotografia mais apurada e têm gerado filmes com produções "oscarizáveis".Sei que não é bem a batuta do bom e velho Eastwood. Ele é um cara dos anos de 1930 e ainda leva consigo aquela pegada de cinema grandioso de época. Mas se você pegar filmes como Conquista da Honra, Grand Torino e A Troca, se você tirar os créditos e pedir pra qualquer outra pessoa que esteja, sei lá, em Marte, assistir a esses filmes, ele dirá que tem Steven Spielberg no meio. Vale dizer de novo que isso não é uma crítica e sim uma justaposição de foco. Quero dizer que o cinema de Eastwood cresceu de forma natural. Assim como o de Spielberg. E é justamente esse amadurecimento que podemos ver em Invictus, seu novo filme a estrear aqui no Brasil. Ele tem tudo que um filme dessa natureza deve ter. Personagens vencedores, crítica politica e social, pseudo-lições de moral e uma pancada de situações para elevar o espectador a entrer naquele mundo de drama e superação. Quando Nelson Mandela é libertado após 26 encacerado, a África do Sul de 1990 estava um caos. A minoria branca esnobava a maioria negra e tomava para si o país num regime quase que totalitário. Para não dizer coisa pior. Mandela livre e assumindo a presidencia era o começo de uma nova era, no entanto, o novo governante não queria fazer o mesmo que seus opressores fizeram, e em seus planos estava uma Nação Unida por um ideal e não divido pela cor da pele. Logo no começo do filme Eastwood deixa bem claro como funcionava as coisas.Tempo depois, o presidente acaba vendo no capitão do time de rugby, Francois Pienaar, a porta para alcançar seu povo de todas as formas. Pois foi atráves do esporte que o primeiro passo foi dado. Morgan Freeman já não é mais aquele guerreiro Mouro de Robin Hood- O Principe dos Ladrões e se mostra um ator que cumpre o que lhe pedem. Não posso dizer que ele brilhe no filme, mas tem lá sua cota interpretando Nelson Mandela. Já Matt Dammon como Francois Pienaar parece estar mais à vontade no papel que lhe fora reservado, mas também faz apenas o filme correr. O que resta ao espectador não é se emocionar com o campeonato de rugby que uniu uma nação, mas sim observar como algo tão simples pode unir tantas pessoas. O mérito fica então a cargo da ideia geral. As dicursões politicas sobre o andar da carroagem naquele período acabam se tornando meramente contextual para o fim das contas. Foi a forma de Clint Eastwood estravasar um pouco o que sente sobre o momento econômico e politico que vive os Estados Unidos. Não é o melhor filme de Clint Eastwood e nem sei se sairá com alguma estatueta do Oscar, mas sei que é mais um bom filme de um cara que sabe onde apertar seus parafusos. É inferior a Grand Torino e A Troca, mas ainda assim é um bom filme. No entanto, em formato de DVD ele deve ficar mais atraente que numa sala de cinema.Invictus (EUA, 2009)
Roteiro: Anthony Peckham sobre livro John Carlin Elenco:Morgan Freeman, Matt Damon, Tony Kgoroge, Patrick Mofokeng, Matt Stern, Penny Downie
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