Eu sou um sínico. Hoje meu olhar pra qualquer coisa que seja é sínico, milimétrico, chato. Eu sempre fui fã de animação japonesa, mesmo antes de saber que as pessoas chamavam de “anime” (ou animê) quando eu era garoto. Acho que ali, na época de Cavaleiros do Zodíaco, tudo pra mim era cool. Bastava ter umas porradas e uns “golpes especiais” que pra mim tava valendo. Akira era meu referencial como filme animado japonês e pra mim, ainda é um dos melhores de todos. Mas com o tempo, comecei a ver a animação japonesa... com certo cinismo provocante. Sempre que aparece alguma coisa pra eu ver, eu penso: “Agora o cara vai invocar o último poder e aí o vilão vai dizer que tava se segurando, pra depois o cara (o herói) se mostrar ainda mais forte e aí sim, invocar seu ultra-mega-power-uper poder”. Esse esquema é sempre comum nas animações em séries japonesas. Cabelos no rosto , vento dramático, paradinha de cenas, grunidinhos duvidosos e coisas assim, típicos. Então pra mim, animação japonesa seriada virou sinônimo de mesmice. Mas calma! Isso nem chega a ser uma crítica dura a forma como eles conduzem suas histórias. É da cultura deles e cabe a nós, fãs (sim, sou fã... só estou cínico) aceitarmos a forma deles contarem seus enredos. Pra eles, isso é normal. Pra mim, é arrastamento de barriga à distância. Bem, o fato é que pra minha veia cínica, ainda existe os filmes animados. Aí, entra uma estética menos esquemática e segue uma linha mais experimental por muitas vezes. Claro que depende de muita coisa. Do que se quer contar, do que se vai mostrar e etc. É o caso dos longas animados do estúdio Ghibli como Princesa Mononoke e Viagem de Chihiro, onde a história geralmente são contos bem bolados e com vazão menos “japonesa”, mas dentro de suas características habituais. Já assisti bons filmes animados japoneses. Que engendravam entre uma ficção ou conto de fantasia. Mas algo um pouco diferente caiu nas minhas mãos: Byousoku 5 Centimeter! Um drama com romance muito bem produzido contado em três atos. O que me chamou a atenção foi como isso foi contado. É um romance com fundo dramático denso. Todos os maniqueísmos das animações japoneses estão lá. As expressões meio mexicanas e aquela tensão exarcebada com simbolismos e filosofia. Mas o fato é que Byousoku 5 Centimeter (Cinco centímetros por segundo) vai além. A história fala sobre dois amigos de infância, Takaki e Akari, que eram grudados o tempo todo. Para surpresa de Takaki, Akari, teve de se mudar por causa do emprego dos pais e deixou a amiga inseparável ir embora, mas não em seu coração e os dois sempre se escreviam, até que Takaki também acabou se mudando para o outro extremo do Japão. Mas antes disso, eles resolveram se ver, porque seria muito mais complicado de se verem a partir desse fato. Takaki faz uma viajem de trem no meio de uma tempestade de neve que chega ser sufocante pelos atrasos do trem por conta da neve. Essa é a primeira parte da animação que mostra eles mais jovens. A segunda parte já se mostra Takaki em sua adolescência seguindo adiante em sua vida e a terceira parte ele adulto em Tóquio. As coisas acontecem naturalmente. Apenas seguindo. A primeira vista parece um romance piegas, verdade seja dita. Mas com o decorrer do filme, ele se mostra um drama sobre duas pessoas, distâncias e o amor. Sobre pessoas que a vida separou e não lhes deu a chance devida de se reencontrarem. O mais legal é que ele não segue um esquema do tipo que todos esperam. Não é um filme sobre final feliz. É um filme sobre pessoas que a vida separou e as guiou por caminhos diferentes, mas que ainda assim, eles estavam juntos, mesmo que apenas em sentimentos. O que ajuda muito no clima do filme é animação extremamente bem produzida. Tem uma fotografia muito bonita e arte fantástica, mesmo com todas aquelas cenas estáticas, ainda assim, as tomadas são muito bonitas. A trilha sonora engrandece ainda mais as imagens e a música “One more time, one more chance”, surge como uma luva em certo momento lá. Olha, fiquei mesmo de olho grande pra cima dessa animação. Com uma história simples e uma animação muito bem conduzida pelo diretor Makoto Shinkai. Infelizmente no Brasil você não encontra isso em lojas. Tem que conhecer um amigo otaku que tenha ou tentar baixar na net. Mas vale a busca. Muito bom mesmo.
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