
A elogiada série American Horror Story tem dois caminhos simples de interpretação na minha cabeça: a primeira é que a série criada por Ryan Murphy e Brad Falchuk (Glee e Nip/Tuck) é um elogio claro aos filmes de terror dos anos de 1980 com muitos sustos na base da trilha sonora, espíritos atormentados, poltergeists e casas mal assombradas cheio de clichês comuns, eficazes e divertidos. Se você seguir esse conceito a série é um prato cheio. Agora se o caminho foi tentar emular o mesmo clima de filmes de terror mais contemporâneos como Os Outros ou O Sexto Sentido, a série quase consegue no começo, mas da metade para o final falha miseravelmente. Ainda assim eu prefiro acreditar na primeira hipótese, pois é assim que a vejo e foi com esse pensamento que eu me tornei muito fã desse programa. A série começa muito bem, com uma abertura assustadora (AQUI), um corpo de texto muito bem equilibrado e sustos baseados principalmente no bizarro, na ideia e em cenas rápidas, quase tudo sugestivo. A trama mostra a família Harmon que tenta recomeçar a vida após um incidente pessoal que os faz mudar para outra cidade indo morar numa casa sinistra com um histórico de assassinatos que vêm desde a década de 1920. A casa aos poucos começa a colocar os personagens em cima do muro e os faz entrar numa paranoia crescente e empolgante que te faz prender na cadeira com os olhos arregalados querendo saber o que vai acontecer no episódio seguinte e admito: faz tempo que uma série não empolga nesse sentido.

Infelizmente a trama começa a entrar em “complexo de mestre de RPG”, termo que criei para denotar algo que não sabe segurar as rédeas num enredo e acomete a besteira de ficar tentando se superar a cada segundo. Pelo episódio seis pra lá você começa a prever todo o seriado em quase todos os detalhes. Se em um tem um fantasma, no outro tem um monstro,e se nesse tem um monstro, no outro tem o monstro que come monstros. No RPG às vezes o Mestre do jogo começa a aloprar pra poder ter o que mostrar no jogo. Na primeira rodada em coloca orcs, na seguinte, trolls, depois ogros, necromantes, dragões, deuses e por aí vai numa crescente sem retorno. American Horror Story cai nessa linha de episódio em episódio. Não é uma narrativa ruim, mas exagerada demais o que compromete um pouco a seriedade do começo nos primeiros episódios. Apesar de inúmeros furos de roteiro e não são poucos, a série tem um bom ritmo, consegue se emplacar, te faz querer conhecer os segredos da casa mal assombrada e o resultado final de tudo isso. Algumas situações são meio idiotas até (por vários fatores como as vacilada de roteiro e a coerência entre o que é real e o que é sobrenatural- fantasma acessando Youtube e fazendo sexo é estranho), mas se você num for muito cricri, pode deixar passar.

Apesar da trama desandar em termos de coerência perto do final, ela ganha em suspense e o cerco se fecha no sobrenatural causando algumas boas situações e outras nem tão boas assim. As motivações por trás de alguns personagens e suas construções psicológicas são totalmente críveis, em contrapartida algumas situações soam meio falsas demais- e batem nos furos de roteiro gritantes que já citei. A série foi indicada ao Golden Globe Awards como Melhor Série de Drama, o que quer dizer alguma coisa, né? A produção do seriado é de uma qualidade acima da média com boa edição, trilha sonora e direção. Apesar de todas os buracos, fiquei muito fã do seriado por conta de sua temática anos “1980” que citei logo no começo (é assim que quero ver) coisa que deve ter surgido nos criadores após verem- e isso quem diz sou eu- o filme Sobrenatural, pois a série lembra bastante este filme com temática anos 80. A trama prende bastante até a metade, depois você já saca quase tudo, ainda assim você fica curioso para ver o que vai rolar. Me diverti muito com o seriado, que tem um ar bizarro, de nostalgia até, mas vou avisando: o último capítulo é a versão “trash” de Os Fantasmas se Divertem. Hehehehehe! Aconselho o seriado mais como entretenimento do que qualquer outra coisa. Tem que gente que acha que tudo tem que ser o novo Lost, um Dexter, um sei-lá-o-quê o tempo todo. É divertido e garante boas doses de suspense. O melhor seriado do gênero que assisti nos últimos anos deste inicio de século. A segunda temporada já está garantida.
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