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Crônicas de um Futuro sem Futuro- O Robô que quis aprender a chorar

Era uma tarde fria de tons azulados. Ao fundo as ondas morriam melancólicas na areia da praia vazia. O céu parecia distante, como se a palavra infinito não se aplicasse mais. O vento soprava uma brisa solitária. Sentado num antigo cais, estava MD- 5242, ou como era chamado antes do Evento Final, Nido. O robô tinha seus sensores contemplando a imensidão do oceano até onde suas lentes podiam alcançar. Nido sempre vinha a esse mesmo ponto da Praia de Iracema perto do antigo espigão para ver o pôr-do-sol. Ele não entendia porque tinha essa necessidade, mas ainda vinha e contemplava um ambiente abandonado, sem pessoas, animais ou algum sinal de vida. Apena aquele corpo de ferro e aço estava naquele local desolado. Puxando de seus bancos de dados ainda operantes, ele recorda alguns momentos que gosta de chamar de "momentos felizes". Ele não sabe o que é isso, mas os humanos gostavam dessa palavra quando estavam em festa, alegres, sorrindo...! O robô com pequenos esforços conseguia puxar imagens de anos atrás quando convivia com uma família humana de seis pessoas e um cachorro chamado Dorminhoco.

Nas imagens que passam pelo seu Disco Rígido, Nido visualiza André e Vanessa, seus donos dentro do conceito que fora concebido, mas amigo para os dois jovens irmãos que o tinham como membro da família. O robô caseiro MD-5242 foi criado para ser um companheiro escolar, ajudar nos estudos e pequenas tarefas diárias, no entanto, dentro da família Arruda ele foi batizado de Nido em homenagem a um tio chamado Ronildo que era muito querido por todos, mas falecera antes do Evento Final. Em suas memórias já prestes a queimar, Nido ainda consegue ver o conceito do qual adotou como conhecimento de vida e tentou trazer para si.

Talvez se fosse humano o robô pudesse sentir algo, mas dentro de suas limitações a que fora imposta, Nido apenas acha que não conseguiria sentir. No entanto, o robô sentia algo dentro dele. Algo que não estava em sua programação. Algo que ele classificaria como quente se conseguisse distinguir em sua lataria o conceito. Se tivesse pulmões o robô agora estaria respirando forte e ofegante. Se tivesse unhas estaria roendo as mesmas. Se tivesse um coração estaria palpitando dentro de sua caixa torácica. Então ele sentiu vontade de chorar. Ele conhecia a teoria, mas não tinha como conhecer a prática. Como poderia? Não conseguiu entender o termo, mas foi o mais próximo que conseguiu definir. Era um robô afinal de contas. Mas algo dentro dele mudou depois de quatro anos sozinho nas ruas da cidade grande. O céu lhe parecia mais bonito. O mar mais vibrante. O vento que assobiava em seus receptores de sons estavam distintos. Nido então levantou-se de uma vez daquele cais velho que estava e se pôs de pé ereto olhando para o horizonte a esta altura avermelhado. Saltou para a areia da praia e não parava de fitar o horizonte. Ele sentiu algumas coisa, algo que seria definido como emoção, algo que não tinha sido programado para fazer. Ao mesmo tempo que uma alegria enorme percorreu seus circuítos, uma tristeza imensa o abateu. Não podia fazer com que lágrimas saíssem de seus olhos robóticos feitos de led, mas podia sentir a dor e a tristeza. Nido começou a caminhar em direção ao mar em busca de parar seu sofrimento. Agora, naquele momento, ele setia-se sozinho de fato. Sem sua família. Sem o calor de seu lar. Conceitos que estavam no seu banco de dados agora jorravam de uma parte de seus componentes que não estavam preparados para receber. Se sentir efetivamente vivo estava fora de suas diretrizes. 

De longe uma luz reluzia em um corpo de metal que caminhava pela areia branca de uma praia solitária. O Sol já estava se pondo, quase no encontro final com o horizonte. Não se sabe dizer ao certo o destino do corpo reluzente, pois a luz do Sol se foi e o manto da escuridão se fez presente. Mas se houvesse uma forma de ouvir alguma coisa em todo aquele breu que surgia e encobria tudo a sua volta. uma voz sintetizada muito suave dizia algo como "obrigado".

***

Fim

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