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Quadrinhos em Crise- Parte 2: Brasil na espreita

Heróis brasileiros por Renato Reis e Alzir Alves para o especial dos Invictos de Rafael Tavares. Muitos heróis e muito potencial!

Se nos Estados Unidos os quadrinhos estão chegando em um nível perigosamente ridículo, como isso afeta o mercado no Brasil? Toda a fase que está rolando por lá e que está levando tanta gente a criticar, e até a abandonar os quadrinhos mensais, eventualmente chegará ao Brasil. E quando chegar, terá força para se vender em bancas, encontrará publico por esse tipo de material? Claro que sim! Infelizmente a gente (generalizando) engole qualquer merda. Mas minha indagação mais inquietante é essa: está na hora do quadrinho brasileiro se erguer? Eu sempre vejo muito autor nacional reclamar que por conta do quadrinho estrangeiro, principalmente o estadunidense, o nosso material interno não ganha espaço em banca. E quem pode censurá-los? Em parte isso é mesmo verdade. Mas essa moeda tem dois lados distintos: se por um lado o mercado estrangeiro mina a força do quadrinho nacional em bancas, por outro lado o próprio autor nacional não faz por onde ganhar a confiança dos investidores por aqui. Sei que falar isso é pisar em ovos, mas encarar a verdade muitas vezes é a melhor saída para uma solução.
Bando de Dois de Danilo Beyruth- um trabalho bastante elogiado pela crítica

De uns tempos para cá muito autor nacional tem conseguido publicar seu material de forma profissional principalmente através de álbuns fechados em editoras menores, que estão no ramo de quadrinhos por tabela. Os preços são sempre aquém do esperado, pois acabam competindo em valor com o material estrangeiro “tão querido” pelo leitor brasileiro, e aí fica complicado. Por outro lado eu entendo os custos gerais, mas fica sempre a pergunta: porque o material nacional não consegue ser mais barato que o importado? Essa questão também é complicada e envolve muita coisa, desde direitos autorais, material mastigado (pois o que vem de fora já se vendeu por lá e vem pra cá “apenas” pra engordar mais o “ofertador”), marketing pronto, afinal vender o Superman é como vender banana, pois todo mundo já o conhece, etc. Mas o leitor não quer saber desses bastidores, ele quer produto barato e bom. A gente precisa de uma política de preços, tetos salariais eficazes (tem artista que quer trabalhar no Brasil ganhando o mesmo que ganha um artista estadunidense-e é impossível, afinal, a economia é outra e o teto salarial deles é no mínimo quatro vezes maior que o nosso). Devem existir muitas concessões para que o quadrinho nacional finque sua estaca.
A Corporação de Álvaro Campos, Fernando Azevedo, Jean Dias, Luciano Feijão e Arabson Oliveira, para o portal de quadrinho da OI, em um dos melhores títulos do site.

Mas um dos problemas mais comuns é que o quadrinhista nacional não sabe escrever. Antes que alguém jogue um tijolo em minha cabeça, vale dizer que não estou generalizando. Há sim muito material bom surgindo, quer sejam em álbuns, fanzines, produções independentes, HQs para leitura online, enfim, no entanto é preciso fazer mais que isso. É preciso ter muito planejamento. Muita cautela na hora de se criar qualquer coisa. Tem sair do comum feijão com arroz, por melhor que seja a temática. Eu sempre uso o exemplo de meados dos anos de 1990 como ponto X para o mercado nacional, com aquela avalanche de títulos toscos como UFO Team, Godless, Amazing Muchchas, Spirit of Amazon (sim, essa tralha toda é nacional, mesmo com esses nomes em “Inglês de efeito”), mas desta vez vou ser mais sucinto e dizer que esse tempo passou. Foi uma geração que teve a sua vez e cagou o pau tentando vender seu peixe como se fosse importado. Está na hora de fazer quadrinhos para brasileiro ler. Os “americanos” num fazem primordialmente quadrinhos para que os leitores deles leiam? Então devemos fazer quadrinhos para nós, independente do gênero. Devemos ter Marias, Josés, Pedros, etc, dentro do nosso mercado de criações e não Matthews, Jacks e Roses.
Necronauta, obra que saiu primeiro online e depois do sucesso na rede ganha uma versão impressa pela HQ Maniacs de igual sucesso.

Esse pode ser o melhor momento para que o quadrinho nacional se mostre, mas tem que ser feito com planejamento e consciência e não despirocada como feito com os quadrinhos que citei onde havia muita arte “Jim Leeniana”, com muita mulher seminua estilo quadrinhos Image Comics, textos cheios de bravatas e filosofias baratas, com clichês um por cima do outro. É preciso escrever e ilustrar acima de tudo com o cérebro. Temos muitos talentos fantásticos. Eu mesmo conheço uma porrada de caras que mandam muito e se eles tivessem uma chance real, poderiam colocar o quadrinho estrangeiro em cheque no Brasil. Basta uma chance para isso acontecer, e como essa onda ruim de quadrinhos estadunidense que já está atingindo o Brasil, o momento pode ser esse.

Comentários

Albatross disse…
o momento, é o agora. a cultura de consumir quadrinho brasileiro... bem... essa quase inexiste, pois queremos fazer sempre como o americano faz. o cinema nacional ressuscitou, porém num formato próprio, nunca vi um filme nacional com alienígenas ou monstros destruindo Brasília (até q seria uma boa ideia rs). Vc frisou bem, Ed. Quadrinhos nacionais com cara de nacional. Deveria existir um selo Vertigo nacional. Esse teria tudo a ver com ideia de "independência"