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George Lucas contra as críticas

Será lançado nesse mês o documentário The People vs George Lucas onde o produtor Gary Kurtz, um dos entrevistados da fita, meio que detona seu ex-chefe! Kurtz defende que a nova trilogia de Star Wars é muito bonita de se ver, mas não tem aprofundamento nos personagens-e nisso ele está certo, vale ressaltar. Esse é um dos principais pontos do documentário, além de ter censurado o cineasta por ter feito tantas intercessões na trilogia clássica. É sabido que muitos fãs da série Star Wars não gostaram muito da nova safra de filmes, mas há uma grande parcela que gostou. Eu sou meio “chapa-branca” nessa: há bons momentos, cenas vibrantes, mas faltou carisma e controle de texto nos novos filmes. Vou ser sincero. Sou muito fã de Star Wars. Muito mesmo. O primeiro que assisti foi O Império Contra-Ataca num projetor caseiro com a imagem na parede da casa do meu vizinho. Eu fiquei fascinado com aquilo na hora. Assisti depois direitinho na Globo que na sequencia exibiu também O Retorno de Jedi e eu só fui assistir Uma Nova Esperança (o primeiro da trilogia clássica) numa Sessão de Sábado no começo dos anos de 1990. Eu não tinha videocassete. Tinha que esperar a TV mesmo. Simplesmente me apaixonei pela universalidade dos filmes. Achava aquilo sensacional!

A nova trilogia veio, eu estava muito excitado com a possibilidade de poder escutar a música inicial de Star Wars num cinema! Porra, era massa demais! Peguei uma sessão das 10 da manhã numa pré-estréia com umas 20 pessoas no máximo, mas eu tava me lixando, só queria assistir. E quando tudo finalizou, sai com um gosto na boca de “poderia ter sido melhor”. Eu pensei que tinha sido só eu, mas lendo em revistas especializadas da época (eu ainda não tinha acesso a Internet) percebi que o problema não era eu, mas sim o filme. Muito abaixo das expectativas de todos. Não sei o que Lucas falou na época, ou se deu alguma bola, afinal, é um produto seu e sempre tem fãs para pagar por ele, mas a verdade é que o segundo filme chegou, e melhorou um pouco, mas ainda assim estava abaixo do esperado. Quando o terceiro veio, começou bem, no meio ficou massante, e o final foi o que tinha de ser, com (aí sim) muita emoção e cheio de adrenalina. Quando avaliei tudo depois, os três filmes, a espera por eles, a produção, as expectativas... pude ver que num geral, poderia ter sido melhor. Muito melhor. Fiquei com a sensação que George Lucas não fez Star Wars, ele continuou um produto.

Gary Kurtz trabalhou com George Lucas em O Império Contra- Ataca (o melhor dos seis filmes) e de acordo com o produtor, uma parte do desentendimento com o cineasta veio da sua frieza como criador e diretor, principalmente no que regia o desenvolvimento dos personagens e roteiro. Kurtz revela que o produtor, criador e diretor George Lucas não ligava para os roteiros como um toldo, apenas como parte de uma sequencia de ação ou encaixe. Quando assisti ao documentário Império dos Sonhos, algo unânime entre os entrevistados é que George Lucas era um cara... frio. Não usavam essa palavra, mas dava pra notar pela forma que falavam dele. Poucas vezes ele sorria, poucas vezes estava satisfeito. Era minucioso e extremamente calculista, sobrando pouco espaço para a interação necessária com o projeto num âmbito geral: é como se todo mundo fosse robô e ele estivesse com um controle remoto. Eu mesmo notei isso durante o documentário. Lucas sempre parecia mais interessado em efeitos especiais do que em contar uma boa história. A “carne humana”, no caso os atores, só estavam ali para ganharem seu dinheiro de acordo com o que ele ordenasse. O resto ele montava na Ilha de Edição.

Existe um episódio curioso que ilustra bem o comportamento de Lucas durante as filmagens de Episódio I. Na cena em que Anakin se despede de sua mãe em Tatooine para ir com o mestre jedi Qui-Gon Jinn, Lucas queria um “tchau” e pronto. O ator veterano Liam Neeson sugeriu a Lucas um pouco mais de emoção, mas o cineasta não queria. Seu texto era pra ser um “tchau” e pronto. Liam insistiu tanto que acabou sendo atendido e a despedida ficou um pouco mais emocionante e o que pode ser visto no filme foi graças a insistência do ator. Isso mostra bem como Lucas funciona. É o “geek”com seu computador novo. A nova trilogia tem a cara de seu criador: dura, com personagens aparados por seus bons atores. Fiquei muito curioso para ver esse documentário agora.

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