
Eu nunca tinha assistido a essa série da forma certa, quer dizer, tudo duma lapada só! Eu cheguei a comprar apenas uma edição daquela versão que vinha saindo pela Abril Jovem que encadernava duas HQs do Spawn e de quebra vinha um VHS com um ou dois episódios dessa série animada, não lembro bem. Depois um amigo gravou da HBO porcamente e me emprestou, mas eu não tive paciência de assistir com aquela qualidade tão ruim. Recentemente um amigo me deu todos os episódios das três temporadas da série animada televisiva e aí sim, eu pude assistir do jeito certo. Cada temporada tinha seis episódios de meia hora cada de uma animação densa, completamente fora dos padrões americanos até pros dias de hoje! Tecnicamente a série estava num patamar bastante elevado. A animação tinha cenas de ação fantásticas, detalhadas, com muita, mas muita violência explicita. Claro que tinha algumas cenas menos detalhadas, que lembrava mais o padrão comum estadunidense, mas ainda assim acima da média. O colorido é muito bonito, a edição também ajudava bastante para contar as histórias e o elenco de vozes tinha o timbre certo para cada personagem.

Já falando do enredo em si, Spawn tinha um grande diferencial aos quadrinhos e até aquele filme meia boca produzido em 1997. O produtor Alan B. McElroy se cercou de bons roteiristas e a adaptação para a TV saiu um milhão de vezes melhor que a do cinema em tudo, principalmente roteiro (claro que são duas mídias primas, mas para mercados distintos e isso pesou contra o filme) e as opções do desenrolar da trama se mostrou madura e sensata. Os quadrinhos do personagem são legais, eu tenho pelo menos umas 70 edições em casa da Abril fora uma fase da Pixel, mas os primeiros roteiros se lidos agora soam piegas, amador e em ritmo de videogame com mistura de Dragonball Z. Desculpa aos fãs, mas bom senso é a palavra da vez. Não era ruim, eu gostava, achava divertido, mas os diálogos eram robóticos. A trama da série animada é mais densa, caminha perto do original (quadrinhos), mas toma atalhos mais inteligentes, com situações mais condizentes a um personagem daquele porte. Spawn é muito mais que um chorão amigo dos mendigos que fica se lamentando a cada dois minutos. Isso ainda está lá, mas muito mais diluído. Jason Wynn está mais perigoso e maquiavélico e alguns vilões ganham maior importância dentro da trama e são usados de forma mais ponderada invés das versões despirocadas e super fodonas dos quadrinhos. Vale frisar que não é uma série hardcore onde você verá o Spawn matando a cada dois frames. Tem muita politicagem, tramas paralelas, investigação policial, essas cosias. Se você for do tipo “ação sem limites” sugiro Liga da Justiça que também é fantástico, mas estará mais dentro da ação frenética que almeja.

A série foi indicada ao Emmy e está muito bem contada no IGN, órgão que avalia produtos ligados a TV e cinema. Todos os personagens dos primeiros quadrinhos do Spawn aparecem com graus distintos de importância. A Vovó Blake por exemplo não tem aquela forçasão de barra metida a Mestre Yoda o tempo todo e sua aparição é comedida e apenas na hora certa. Wanda também dar as caras muito mais decida e Terry está até bem parecido com o dos quadrinhos, mas ele sai da linha marido legal que pegou a ex-mulher do amigo defunto e cai numa linha tênue entre a loucura e conspirações (usado de forma menor nos quadrinhos). Bom mesmo são os detetives Sam Burke e Twitch Williams que mantém a mesma química dos quadrinhos, mas muito mais efetivos e com boas cenas de ação, destaque para Twitch que na última temporada tem destaque de honra na tribuna da série. As temporadas duraram de 1997 a 1999 e infelizmente parou por aí. O final foi bacana, nada muito “blockbuster”, mas quase deu a entender que teria mais uma temporada. Não sei informar se a HBO tinha planos ou se era só isso mesmo. Uma grande série baseada num personagem em quadrinho que manteve e foi além do original. Quem tiver a oportunidade, aproveite.
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