
Nessas últimas semanas, parei para reler algumas obras de
Frank Miller que tenho em minha coleção. Fazer isso agora me colocou em outro patamar de visão não só de Miller, mas também de quadrinhos de décadas passadas para o que feito hoje em dia. E vou dizer: Frank Miller era genial. Não apenas como um roteirista em ascensão, mas como artista versátil e com um traço próprio e único. Eu não tenho muita coisa do Miller, mas tenho algumas obras que o fizeram ser o nome forte que é hoje na indústria dos quadrinhos de ponta do mercado internacional. Comecei relendo
Cavaleiro das Trevas 2 (2001), pois quando o fiz pela primeira vez, admito que li com muita preguiça de tão ruim que eu estava achando. Fora o hiato que houve entre a edição #02 e #03, bem numa época conturbada para a Editora Abril no seu campo de quadrinhos, que havia sido “tomada” pela novata no Brasil Panini Comics.

Mas reli, achei menos ruim que quando li pela primeira vez, mas não salva. É de fato um material triste de doer. Miller está com um traço horrível, as cores de
Lynn Varley em sua primeira tentativa de colorir pelo computador cagaram ainda mais a arte já pobre de Miller. Essa é a mancha no currículo do cara. Mas logo na sequencia, tentando limpar meu cérebro, reli C
avaleiro das Trevas 1, de 1986! Cara, que minissérie fantástica. Em tudo! Arte, cores, texto... cáustico, claustrofóbico, surreal. Aqui Miller mostra um Batman com 50 anos e já fora do combate ao crime há mais de 10 anos. Mas quando os cidadãos de Gotham voltam a precisar do Homem Morcego, ele retorno como um “Cavaleiro das Trevas” em meio a um caos generalizado pela Guerra Fria. Some aí paranóia nuclear, maniqueísmo político e uma loucura espalhada por toda a mini. Fantástico. Pra mim, a melhor obra de Miller até hoje.

Então passei pra outra obra dele de cara, também com o Homem Morcego chamado
Batman Ano Um (1988), com os primeiros dias do vigilante, quadrinho que serviu de base para Batman Begins no cinema. Batman Ano Um é outra obra de arte do cara, dessa vez ocupando a cadeira de roteirista e deixando a arte para o espetacular
David Mazzuchelli, que simplesmente matou a pau. Temos um Batman no começo de carreira e um James Gordon começando como tenente na temida Gotham City, com muita corrupção na polícia e um caso amoroso nas costas. É um dos trabalhos mais instigantes com o herói e também um dos melhores de Miller. Aí passei para Clássicos do Demolidor #01 (com quadrinhos de 1981), com sua passagem pelo Homem Sem Medo da Marvel onde Miller impunha um ritmo muito bom ao personagem, ainda com um traço mais “comum”, mas já dando o que falar com sua narrativa cinematográfica.

Como eu só tenho a primeira edição, corri logo para minissérie A Queda Murdock em 1986 (também com arte de David Mazzuchelli), onde Miller destrói o Demolidor como pessoa e herói, tirando o personagem de seu mundo super-heróico e o colocando em diversas adversidades, começando pela revelação de sua identidade secreta ao seu pior inimigo, o Rei do Crime. O legal é ver a forma dura com que Miller faz isso, vendo o ano que isso foi criado, deve ter sido (e foi) um verdadeiro choque para os leitores. Aqui Miller coloca a ex-namorada de Matt Murdock com viciada e estrela em decadência de filmes pornôs, atrás de um pico, ela vende a identidade secreta do cara e causa um verdadeiro caos na vida do Homem sem Medo. Simplesmente fantástico. Então descabei geral. Peguei Elektra Assassina (década de 80) e Sin City (O Assassino Amarelo, A Dama de Vermelho Especial e a Grande Matança- começo dos anos 90) pra devorar também. Como era formidável. Em Elektra tome mais jogos de espiões, clãs ninjas, misticismo, ação e uma pancada de coisas que só o Miller sabia fazer. Aqui o traço “plástico” de B
ill Sienkiewicz. Em Sin City o cara resgata aquelas boas HQs policiais em clima noir, com muita luz e sombra, diálogos “fanfarrões” e ação que parece que ter saído de um filme de ação frenético. São sem dúvidas os personagens mais fodões do mercado até então. Sexo, drogas, corrupção, violência e muito mais é o que você encontra na “Cidade do Pecado”. Ainda tenho Ronin, um trabalho que quando li pela primeira vez achei meia-boca da década de 80 que de fato meio que foi ignorado pela crítica, quando Miller já era o bam-bam-bam.

Mas vou reler para ver se ganha outra cara. Ainda tenho as primeiras edições de A
ll-Star Batman e Robin (relativamente recente), seu retorno ao Universo do Homem Morcego ao lado do mega astro dos quadrinhos
Jim Lee na arte. Sinto dizer, mas esse é um trabalho bem fraco do roteirista que nem fede e nem cheira. O trabalho está parado, pois ano passado Miller se concentrou em dirigir e escrever o fracasso de bilheteria The Spirit, baseado nos quadrinhos de
Will Eisner e deve ter quebrado as pernas dele. A primeira experiência do cara com cinema foram os roteiros de Robocop 2 e 3, e são duas bombas que foram fracassos retumbantes. Seu único sucesso foi a adaptação de Sin City para o cinema, onde ele codirigiu ao lado de
Robert Rodriguez, que vamos concordar, fez a diferença monstra aqui. Sozinho ele é uma merda! Eu ainda tinha Hard Boiled e 300 (mini da Abril), mas emprestei e nunca mais vi. Acontece. Miller era o cara... hoje ele o nada. Pelo pra mim o cara não consegue mais acertar. Vamos ver se com seu fracasso na direção o cidadão toma gosto por quadrinhos de novo e manda ver como antigamente. E só pra constar, ele tem medo do Superman!
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